segunda-feira, 19 de março de 2007

CAMELÔ FILOSÓFICO Nº. 2 - AMA QUE O FILHO É TEU!


(para Maumau & Cacá)

Tenho um amigo antigo e muito especial que há cerca de 15 anos tornou-se um casal. Ao contrário do que costuma acontecer, a transformação dele em dois nos aproximou ainda mais. Sua mulher soube receber e ser bem-vinda por todos que o conheciam anteriormente.
Desde então acompanhamos mutuamente o desenrolar de nossas vidas com o respeito à individualidade e ao “espaço” necessários às amizades duradouras. As vezes passamos meses sem nos ver, noutros períodos nos encontramos todos os dias. Há tempos que é mais gostoso estar com ele, e passar horas trocando desacatos e fazendo gozações sobre tudo e todos, outras vezes é delicioso estar com ela “levando um papo-cabeça”. Mas o melhor mesmo é estar com os dois simultaneamente e ficar completamente atordoado com suas enormes afinidades e gigantescas diferenças que eles administram tão bem.
Semana passada, fiquei muito feliz ao receber a noticia que o casal vai se transformar em um trio, ou quarteto, ou quinteto... Sei lá. O que importa é que eles embarcaram na fantástica aventura de gerar alguém, de cuidar de alguém, de educar e, principalmente amar esse alguém.
Ao contrário da minha história, eles já estão maduros, com a vida financeira estabilizada e podem traçar uma estratégia para os próximos anos ao lado das crias. Isso é ótimo e pode evitar muitos erros que eu, por exemplo, cometi. Eu “me vi pai” aos dezoito anos e aquela situação, na época, me trouxe mais responsabilidades do que realização. Foi uma pena. Encarar um momento tão especial como esse sob a sombra dos compromissos e obrigações me fez perder muito. Dentre todas as trapalhadas, a que mais me entristece até hoje é não ter deixado claro o meu amor incondicional ao filhote e por isso não ter usufruído plenamente aqueles dias.
É óbvio que sempre amei meu filho, agora mais do que nunca, pois amo também o amigo e a pessoa extraordinária que ele se tornou, mas durante seu crescimento atropelei, com minha precoce rigidez, inúmeras oportunidades de demonstrar meu amor a ele nos momentos em que mais precisava: Quando ele errava, quando ele falhava...
Eu achava que criar e educar era uma tarefa que só se fazia com repreensões, olhares monstruosos e castigos. Ainda acredito que possa ser uma boa técnica, desde que fique sempre evidente que independente de qualquer travessura e correspondente castigo, que a criança é amada. Muito amada.
Meu engano foi entender que cada deslize do filho revelava uma falha minha na tarefa de educa-lo. Nos primeiros anos não conseguia vê-lo como um indivíduo, tratava-o como uma extensão rebelde de mim mesmo.
Se pudesse voltar no tempo, acho que não o pouparia de nenhuma das repreensões e castigos que apliquei, mas com o que sei hoje, essas medidas disciplinadoras não teriam a carga emocional que eu costumava empregar nesses episódios. Agora, mais maduro, seria um pai fleumático, argumentador incansável, quase cínico: -Querido, não adianta choramingar. Eu não vou te dar esse brinquedo hoje. Por favor não insista. Estou preparado para te dizer não um milhão de vezes, até que você entenda. Vamos mudar de assunto? Vem cá e me dá um beijo.
Ainda, teria mais tempo pra ele e suas aborrecidas sessões de perguntas intermináveis, daria mais banhos, mais sorvetes e pipocas, mais guerras de travesseiros, mais horas e passeios só nós dois.
Aprendi com meus erros que filhos não são empreendimentos. Os filhos, como os pais não são. Eles estão. Estão vivendo uma versão de si mesmos, que seguramente não será a mesma daqui alguns dias, alguns meses ou alguns anos. Estão em contínuo processo de mudança e quase sempre evoluindo. Portanto, não há que se dar gravidade ao que é passageiro.
Essa aventura, essa viagem, passa muito rapidamente, portanto amigos, levem a máquina fotográfica da sabedoria para que se revele nas lembranças o amor incondicional pelos companheiros mais novos, cujas guardas nos foram dadas. Algumas fotos podem não ficar tão boas, nem muito nítidas ou alegres. Mas que todas tenham sido “iluminadas pelo amor”.
Ninguém disse nada mais adequado do que Che Guevara para encerrar esse texto: “Hai (algumas vezes) que endurecer, pero sin perder la ternura, jamás”!
em tempo: Na foto meus pais e eu em Bertioga, verão de 1962/63 .

3 comentários:

Anônimo disse...

estou acompanhando seu blog tio!
pode continuar que pelo menos um está lendo tudo! :)
um abração!

Unknown disse...

Ei Belo,está cada dia melhor...
Ro.

Anônimo disse...

Cury, sua idéia é brilhante fazia tempo que não ouvia algo tão interessante e cultural. tenho certeza que vai ser um sucesso,e tudo vai dar certo.No que precisar espero poder te ajudar e participar.um abraços ,Luciano.