terça-feira, 22 de abril de 2008

AVISO-PRÉVIO.

(Caixas de tomate na CEASA - Foto minha enquanto a serviço da pizzaria, é claro)


As coisas que eu mais gosto são muito simples:

Caminhar à tardezinha, pedalar de manhã, café e pão com manteiga na padaria, comprar jornal na banca, comer pastel na feira, Toddy batido no mixer, Chicabom, pudim de leite condensado, tostex de queijo branco, pipoca com molho de pimenta, cochilar na rede lendo um bom livro, cafuné (na careca mesmo), vestir roupa velha bem lavada e bem passada depois de um banho caprichado, viajar de qualquer forma, e conversar... Adoro conversar. Gosto de falar sobre o tempo, sobre comidas, livros, filosofar sobre gentes, experiências e causos... Gosto de ouvir, de forma profunda, de aprender com os outros.

Também amo abraços apertados e beijos estalados como só os verdadeiros amigos e amigas podem retribuir.

Abriria mão de todos meus outros gostos sofisticados para poder usufruir somente destes “momentos essenciais”.

A falta dessas coisas está me angustiando. Estou sendo transformando num ser estranho, anti-social e só, inacreditavelmente só. Pode parecer loucura alguém que tem contato com no mínimo cinqüenta pessoas todos os dias se queixar de solidão, mas não é: Aconteceu que ao longo dos últimos onze anos meus relacionamentos foram se resumindo aos laços comerciais, o César “gente” foi cedendo espaço para o Cury comerciante que praticamente mora numa pizzaria, que trabalha todos os dias e noites e não consegue ir para a cama antes das três da madrugada. Um cara que quando acorda antes das onze é para cumprir com compromissos impostos pelo negócio.

A criatura engoliu o criador que está surtando.

Não agüento mais falar sobre pizzas e cervejas, sorrir forçado da mesma piada contada pela enésima vez, responder que não vi tal peça de teatro, que não fui ao cinema, que não vou ao aniversário de ninguém, que não assisto televisão (não que o fizesse se fosse possível), que não conheço a Pizzaria Bráz, que nunca fui ao Cartun, que perdi o Cirque du Soleil, o show do Chico, do Ney, da Maria Rita, e que há dez anos não vejo o mar.

Claro que a pizzaria me proporcionou conhecer pessoas especiais como Fábio, Karin, Suzy, Gustavo, Israel, Abrão, Neiri, Lobão, Silvinha, Mazon e tantos outros e outras, mas eu não consigo usufruir deles... Quando vão à pizzaria fico dividido entre os amigos e o trabalho e fora da pizzaria eu simplesmente não existo. Nunca consigo estar com eles em outro lugar, aliás eu nunca estou em outro lugar.

Numa tentativa desesperada tentei delegar atribuições para conseguir tempo. Creio que acertei na teoria, mas errei feio na prática: Resultou num retrocesso operacional de uns seis meses e em prejuízos que devem alcançar o equivalente a noventa dias de lucro. – Ta vendo? Nem sei mais falar apenas do que eu sinto, já ia enveredando por assuntos comerciais!

Por tudo isso e, especialmente, porque estou morrendo de saudades de mim, a pizzaria está à venda a partir de hoje.

Se tudo der certo, brevemente a gente se encontra pra um pastel na feira.

domingo, 13 de abril de 2008

SONHO RECORRENTE.



Essa coisa de ficar ouvindo a narrativa de sonhos alheios é quase tão chata quanto ver fotografias das férias dos amigos em Orlando. Mas resolvi escrever (e ilustrar) sobre um sonho recorrente numa tentativa de destravá-lo. Quem sabe assim eu “provoco” os próximos capítulos.

Já tive sonhos recorrentes em diversos períodos, porém há cerca de um ano visito a mesma cena misteriosa ao menos uma vez por semana:

O cenário é muito simples, já foi um deserto, mas ultimamente quase sempre é uma praia. O elemento preponderante é a areia. O sol brilha muito, mas a temperatura é amena. Quando o sonho se passa na praia posso ouvir o barulho do mar, já no deserto, ouço apenas a respiração dos personagens.
Os protagonistas são apenas uma mulher (balzaquiana) e eu. Nós dois usamos calças jeans e mais nada. Normalmente estou sentado sobre meus calcanhares e ela fica postada da mesma forma atrás de mim. Ela usa uma espécie de pincel para escrever diretamente na pele das minhas costas. Quase sempre meu ângulo de visão permite que eu me veja “de fora”, mas nunca consigo ler o que ela escreve, da mesma forma também não tenho oportunidade de ver o seu rosto, sempre coberto por cabelos castanhos avermelhados, quase ruivos. Sua pele é muito branca e tem mãos bonitas.

É claro que rola um forte erotismo, mas o mais marcante é o clima de cumplicidade, de confiança recíproca, de entrega. Sei que, de alguma forma, estabelecemos um pacto de silêncio e, que naquele momento, tudo está perfeito.


Só quando acordo é que sou perturbado pelas dúvidas:

  • Quem é ou como é o rosto dessa mulher?
  • O que ela escreve (ou desenha) em minhas costas?
  • Por que o silêncio?
  • O que significa essa maluquice? Eu dou “suporte” para ela se expressar?
  • Quando verei a próxima cena?

Plim-plim!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Anjo Caboclo Multimídia

Minha primeira (perdão) experiência com essa tecnologia - Baseada no post anterior.

terça-feira, 1 de abril de 2008

ANJO CABOCLO.


DICA: Esse texto é melhor compreendido se lido com sotaque caboclo. Experimente ler em voz alta imitando Rolando Boldrin. Esqueça os plurais e se tiver intimidade com o "estilo" leia assim o 1º parágrafo: "Apreceio o outono cum seus dia di sombra cumprida..."
PS: Hoje (02/04) fiz um filminho narrando essa miração em "caboclês", está na postagem aí de cima

Aprecio o outono com seus dias de sombras compridas..

Tempo bom para caminhar, melhor se for nos caminhos de terra batida e bem clarinha que aumenta o contraste da sombra da gente.

Finjo que a sombra é meu Anjo passeando comigo, que nem cachorro que não é ensinado. Tem hora que dispara, quase some, mas fica me esperando na curva, esse meu aliado. Depois se aquieta um tantinho, passa de um lado, passa de outro e acaba ficando lá pra trás, esperando outra reta com o sol na minha guarda pra me guiar com carinho.

Meu Anjo, quando estica, gosta de brincar. Nos barrancos fica imitando macaco, galinha, marciano. Nos capinzais, quando venta, só quer saber de dançar, já nas lagoas e nos riachos ele mergulha sem medo como que pra me convidar.

Acho que o Anjo da gente é assim também... Ta sempre por perto, brincando, pulando, chamando a gente pra reinar, mas a gente nem percebe, e ele nem deve se chatear, afinal nem mesmo pra LUZ a gente não se habitua olhar.

Os meses de outono são como o agora que a gente não costuma valorizar. É que a cabeça do povo não pára de trabalhar, lembra do calor que já passou, sente medo do frio que ainda vai chegar e esquece de subir num morro ou num telhado que fosse para o pôr-do-sol contemplar.

Sabe de uma coisa? Não vejo a hora de o dia raiar. Vou correr pra alvorada, no meio do nada e os braços e pernas vou esticar. Quero dar pro meu Anjo a sombra de uma estrela pra ele brilhar.