quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Bolores de uma noite de verão.












Janeiro vai acabar dentro de algumas horas.
Que leve embora esse (contagiante) mau humor climático que eu preciso de sol.
Estou embolorando!
Veja a umidade aí em cima...
Vietnã!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

CABEÇAS BRILHANTES.

Eles começaram a me abandonar quando eu tinha uns 25 anos. Não dei muita importância na época, pois, aparentemente, os genes que supunha carregar não determinavam um futuro “sem teto” para mim. Meus irmãos, todos mais velhos que eu, ainda hoje ostentam vastas cabeleiras, o que me faz imaginar uma das seguintes alternativas.

(___) Sou adotado.

(___) Sou o mais estressado de todos.

(_X_) Tenho mais testosterona que os três juntos.

Prefiro a última opção, é óbvio.

Há uns quatro anos, por sugestão da Josy, minha ex-cabeleireira, abandonei a tesoura e passei a ser tosquiado com uma máquina com pente # 4 que deixava meus cabelos com 12 mm. O tempo foi passando e acabei me tornando mais ousado: Pente # 3 com 9 mm, depois o # 2 com 6 mm e em abril do ano passado arrisquei o pente # 1 que deixa a penugem com apenas 3 mm.
Em outubro passado tentei marcar hora com a Josy durante duas semanas. O salão andava abarrotado de clientes e parece que, depois que adotei a máquina de tosquiar, fui relegado ao nível de freguês de segunda categoria. Faz sentido, uma cabeleireira cuida de cabelos e esses eu quase já não os tinha mais. Foi assim que comprei minha própria maquininha pelo equivalente a duas visitas ao salão da Josy.
Descobri que é muito fácil usa-la e o melhor é que sempre está disponível, não tenho que conciliar meu tempo com uma vaga na disputadíssima agenda da cabeleireira.

Em dezembro último, deparei com uma foto da estonteante Natalie Portman careca. Sempre achei super-atraentes as mulheres de cabelo muito curto e essa foto me impressionou tanto que acabei virando um colecionador de escalpos. Comecei com as mulheres, depois passei aos galãs, mais tarde adquiri algumas carecas santas e outras que nos fazem felizes. Fucei tanto que acabei descobrindo no site Worth1000.com até aquelas que não existem, mas gostaríamos de ver. Mesmo grande, minha coleção estava ficando monótona, então, domingo passado, tirei o pente # 1 do tosquiador e entrei para a confraria das cabeças brilhantes.

AS BELAS:Tudo bem, a Britney não merecia estar aqui.

FAMOSOS & CHARMOSOS:

OS CARECAS DO BEM:

CARECAS QUE NOS FAZEM FELIZES:

CARECAS QUE GOSTARÍAMOS DE VER:

e EU:
















Com a Hebe ao fundo em 29/01/2008 numa pose para a revista Viagem & Turismo de fevereiro.
Parece que a matéria vai sair sem foto, deve ser preconceito do editor (cabeludo).

domingo, 27 de janeiro de 2008

FOGUEIRAS & VAIDADES.


Auto-retrato em sombra líquida no Ribeirão das Cabras.

Acho que foi numa crônica do Veríssimo onde li: “O fogo era a TV do homem das cavernas”. O autor discorria sobre o fascínio que as chamas ainda hoje exercem sobre os seres humanos. Concordo plenamente e acrescento: Somos todos potencialmente “pirolátras” – termo que acabei de inventar por considerar bem mais adequado que piromaníacos.
Basta uma vela para ficarmos hipnotizados e quanto maior o fogo, mais “piramos” nele.
Nós, humanos de 2008, ainda gostamos de nos sentar junto a uma fogueira, uma lareira, ou um fogão a lenha e de quando-em-quando nos surpreendemos divagando nas mais altas estruturas filosóficas que conseguimos alcançar. Diante do fogo somos impelidos ao silêncio, à meditação e fazemos isso publicamente, sem o menor pudor, muitas vezes em grupos. Contemplar as chamas nos afasta dos interesses materiais e nos conduz à pensamentos mais elevados.

Outro hábito não menos automático e também de raízes ancestrais, é o de se auto-analisar diante do nosso reflexo, até de nossa sombra. Ninguém resiste a um espelho, mas só nos dedicamos a uma observação minuciosa de nossa carcaça se não houver testemunhas. Em público apenas damos uma breve espiada para conferir se não estamos muito inadequados (usando nossos critérios) aos olhos dos outros observadores. Já, na intimidade de nosso quarto ou banheiro, diante de espelhos confidentes e discretos, ousamos esmiuçar cada poro de nosso corpo, quase sempre em busca de imperfeições e maneiras de corrigi-las ou disfarça-las. A coreografia ridícula que (quase) todos nós praticamos quando nos entregamos a auto-observação (encolher a barriga, endireitar as costas, arrebitar a bunda, fazer caretas) só é superada pela mediocridade do que realmente se passa em nossas cabeças nesse momento: Não sou suficientemente bonito, gostosa, charmoso, peituda quanto gostaria.

Essa fixação na imagem incompleta que os espelhos nos oferecem é que gera cada vez mais pessoas bonitas e vazias e a espantosa prosperidade das clínicas de estética.
Na frente do espelho tendemos a perder a espontaneidade e corremos o risco de levar essa encenação para além dos limites da nossa intimidade, como se tudo fosse um “reality-show” do eu-pra-mim. Um passo da total insanidade.

Resumindo o paradigma: Quando contemplamos o fogo nos introspectamos e temos pensamentos nobres, mas na própria observação, tendemos a desenvolver idéias primitivas sobre nosso papel nessa existência.

Se não fosse pelo aquecimento global, iria propor uma campanha mundial: Troque seu espelho por uma fogueira. Se nem assim se sentir mais feliz, jogue-se nela.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Outras cores.

Outro dia, passando em frente a casa-teatro-atelier (um dia explico) do Sebastian e da Natasha, aqui em Joaquim Egídio, vi essas caixinhas de madeira multi-coloridas e me lembrei de uma conversa que tive com um cliente da pizzaria (elevado à categoria de amigo), o Mark.
Mr. Mark é norte-americano recém chegado ao Brasil e o "bam-bam-bam" para a América Latina de uma multinacional de tintas automotivas.
Ele se disse surpreso com o nosso gosto pela "falta de cores" nos automóveis: -Vocês, brasileiros, só compram carros de cor preta, branca ou prata! Onde estão o calor latino e as referências tropicais?
Ele tem toda razão. A esmagadora maioria dos carros produzidos no Brasil no século XXI ostentam essa falta de cor.
Hipnotizado com o colorido das caixinhas da Natasha, imaginei que os congestinamentos seriam mais suportáveis se não levassemos nossos carros tão a sério.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A PELE NOSSA DE CADA DIA.

Houve um tempo que por questão de praticidade e preguiça todas as minhas roupas tinham apenas tons militares: Variações de verde e de cáqui. Mesmo no escuro podia me vestir adequadamente, pois tudo combinava.
Não sei quando e nem porque novas cores passaram a me cobrir, simplesmente aconteceu.
Claro que não foram as roupas que escolheram morar em meu armário, não são elas as responsáveis por essa atual versão de mim, mas ao contrário: Elas refletem, suponho, um novo olhar que eu coloquei sobre a vida. Existe uma mudança, tão sutil que só percebi essa tarde ao contemplar meus cabides ao sol.
Assim também acontece com as rugas, com a careca, com o grau dos óculos, com o trabalho, os relacionamentos, as convicções, as amizades. Quando acordamos, estamos mudados. Nem melhores, nem piores, apenas diferentes das nossas versões anteriores.
É bom eu prestar mais atenção a todas as pequenas mudanças pra não correr o risco de virar apenas um cabide pendurado na corda da vida e um dia ser surpreendido vestindo uma “pele” que, por apego ao passado, julgue inadequada.

Dica: Cabides no varal multiplicam o espaço, facilitam na hora de passar e se ventar, acontece um carnaval de fantasmas no quintal. (Seria um “almaval" ?)

SAMPA


"Ademito" falta de assunto. Mas esse recurso de postar as fotos direto do Picasa é ótimo.

Borboleta de corrida.


# 08

Por falta de um caminhão...


Joguei nessa placa durante um mês!

Dica de Restaurante

Atenção para a última frase da placa!
Fica aqui pertinho de casa: Km 5,5 da estrada que liga Joaquim Egídio ao Pico das Cabras.
A comida é excelente e o serviço... digamos... excêntrico.
Em primeiro plano, a Judith, minha bike quase debutante.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

CASAQUISTÃO É AQUI.

Assisti hoje Borat. Pra variar, depois de todo mundo.
Sentimentos conflitantes: Ri muito e acabei meio deprê.
Risos por motivos óbvios e um pé na tristeza por conhecer dezenas de migrantes norte-brazucas com sonhos, deslumbramentos e inadequações semelhantes (sobre)vivendo aqui, no “sul maravilha”. Tristes também são os valores dos tidos como civilizados tanto no filme como na vida real.

Seria mais engraçado se fosse total ficção.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

OS DESEJOS, O DESMAIO E O DIVINO GOZADOR.

Foto de Graça Loureiro em Olhares.com

ADVERTÊNCIA: Esse post, para fazer mais sentido deve, preferencialmente, ser lido depois de FELIZES ESCOLHAS NOVAS, a postagem imediatamente anterior a essa.

°oOºO0°

Bem que eu não queria sair de casa hoje, mas tinha que ir aos bancos, dentista e providenciar alguma coisa para o jantar.
Como o tempo era escasso para um almoço, meu filho e eu fomos comer um sanduíche num bar bem bacana no centrinho de Sousas, em frente ao Bradesco. Quando pus na boca o último pedaço do sanduba lacto-vegetariano, vejo uma mão estendendo-se em minha direção. Segui com os olhos o braço que a sustentava e encontrei sobre os ombros o enorme sorriso de um dos caras (na minha visão pecadora de antes da virada do ano) mais chatos e irritantes que, vez ou outra, cruzam o meu caminho, e o pior é que ele me adora!

- César, meu grande amigo! Grande César. Ave César! Chacoalhava minha mão lambuzada de tomate seco.
- Como vai? Perguntei sem demonstrar nenhum entusiasmo, nem interesse.

Foi o suficiente para ele, carregando uma salsicha empanada e uma Coca-Cola, puxar uma cadeira e sentar-se à nossa mesa. Já ia me preparando para levantar quando me lembrei do meu propósito de ESCOLHER minhas emoções e reações (Vide postagem anterior).
Só pode ser brincadeira "da turma lá de cima", pra me testar, pensei.
Recompus-me emocionalmente para “carregar o mala” e driblar o meu impulso de me livrar logo dele. Deu certo! Em poucos segundos consegui vê-lo de forma diferente, no momento em que ele iniciou seu esporte predileto: Dizer de cor a data de meu aniversário, da minha ex-mulher, de todos os meus primos e mais um monte de gente conhecida. Falou com orgulho que sabe de cabeça o “birthday” de 1.010 pessoas e que faz cerca de 7 telefonemas de congratulações todos os dias. Isso é verdade! Há alguns anos, numa manhã deFinados, o telefone tocou em casa às 07h00min em ponto. Quem me conhece sabe que por questões do trabalho noturno e também do ritimo de meu relógio biológico nunca se deve ligar para mim antes das 11h00min “da minha madrugada”.

Do outro lado da linha escuto uma voz masculina cantando Parabéns pra Você!

- Quem é que está falando? Berrei irritado.
- Adivinha.... He, he, he, hiiiiiiii!
- Não pode ser amigo me ligando nessa hora!
- É o Gustavo Freitas Barbado
(nome fictício, claro). Queria ser o primeiro a cumprimentá-lo!
-E você conseguiu Gustavo. Quem foi o FDP que te deu meu telefone? Eu não autorizo a divulgação do meu número pela Telefônica!
-Tenho minhas fontes, amigo! He, he, he, hiiiiiiii!

Deixei-o falando sozinho, joguei o telefone sobre o sofá e voltei para a cama, revoltado!

Hoje porém, graças a minha ESCOLHA de não me irritar, acabei até me divertindo, trocando olhares arregalados com meu filho a cada vez que ele soltava uma de suas pérolas. Foi com pesar que me despedi dele para ir à dentista.

Com a boca aberta e anestesiada, sem mais nada pra pensar, passei a enxergá-lo como um personagem quase que folclórico, não faz mal a ninguém, só é bastante inconveniente, e todas suas intervenções, mesmo que desastradas visam o bem de suas “vítimas”. Fiquei feliz com minha atitude e acabei por inventar um sutil sorriso com a boca escancarada que fez a dentista perguntar se eu estava sentido dor.
Saí da tortura semanal com o beiço mole, mas de bem com a vida e resolvi arriscar buscar um quadro com três Buddhas que tinha visto no Iguatemi dias atrás. Ficará ótimo sobre a cabeceira da cama, pensei.
Dei sorte. O quadro ainda estava lá e o preço baixou vinte por cento. Liquidação de Natal.
Para evitar qualquer outro impulso consumista, peguei o embrulho desajeitado e segui direto para o estacionamento. Foi quando não resisti a um café na Casa do Pão de Queijo, já quase na saída do shopping.
À minha frente, na fila do caixa, havia uma moça, típica freqüentadora de shopping, uns 35 anos, bem vestida, bem penteada, com bolsa de grife e segurando uma sacola da Saraiva. Percebi que dentro tinham uns três livros...
Enquanto ela pagava por um suco e um salgado, fiquei comentando comigo mesmo: Hum.. Bonita... Comprando livros... Talvez não seja tão “patricinha” como aparenta...
Depois de pagar, ela se afastou para a esquerda e sentou-se num daqueles bancos altos. Era a minha vez de ir ao caixa e enquanto a atendente fazia o troco, olhei de relance o rosto da tal moça, agora ao meu lado. Ela também estava olhando pra mim. Vesga, muito vesga, assustadoramente vesga! Mas tão vesga que tive que olhar de novo. Mas seus olhos, dessa vez, estavam normais.
Enquanto eu tentava descobrir que tipo de pegadinha estava sendo vítima, ela deu uma balançada pra trás, como se jogasse os cabelos e quando voltou meteu a testa violentamente no balcão. Larguei o quadro e minha bolsa e consegui ampara-la antes que chegasse ao chão.

- A mulher desmaiou! Gritou alguém.
- Ela sempre tem isso? Perguntou uma senhora.
- Sei lá! Eu não a conheço!
-Como é que você soube que ela ia cair?
-Ela piscou pra mim!
Falei irritado.
-Será que alguém pode chamar a segurança? Berrei.
-A moça do café já foi. Falou uma outra mulher.
Apareceu uma jovem vestida de mico de realejo: A segurança do shopping.
-O que ela tem?
-Não sei moça. Não sou médico. Só sei que ela precisa de ajuda. Tem um ambulatório aqui, né?
-Tem sim, vou chamar pelo rádio.

Enquanto o socorro não vinha, ficamos nós dois lá no chão do café minúsculo, eu sentado sobre os calcanhares, com a cabeça dela recostada no meu peito, o braço esquerdo apoiando suas costas e com a mão direita acariciava seu rosto e tirava os cabelos de sua boca. De tempos em tempos ela ameaçava acordar, olhava pra mim, ficava vesga de novo e apagava. Começou a suar abundantemente, um suor gelado que chegou a molhar minha camiseta.
Até a chegada do socorro, acho que não se passaram nem cinco minutos, mas pareceram horas.
Enquanto as pessoas em volta (semi-histéricas) levantavam hipóteses acerca de ressaca de Reveillon, gravidez, pressão baixa e os cambau, eu cochichava no ouvido dela: - Fica tranqüila, já vai passar, ta tudo bem... Na verdade estava falando para nós dois.
Chegou um pessoal vestido de branco com uma cadeira de rodas e arrebatou-a de meus braços. A moça vestida de mico os seguiu levando a bolsa chique e a sacola de livros.
Levantei-me, meio atordoado. Uma alma boa tinha recolhido e guardado o quadro, minha pochete e a carteira que ficara sobre o caixa.
Tive tempo de ver a cabecinha dela balançando quando a cadeira de rodas fez a curva no corredor.
Finalmente pedi meu café e o sorvi com dificuldade por conta dos lábios ainda adormecidos da anestesia. Repassei calmamente, diante da xícara, as últimas horas do dia. Tive um arrepio quando fiz a ligação do derradeiro episódio com um quase desejo para 2008 que nem cheguei a colocar no papel, pois era incompatível com outro projeto: A viagem solitária de setembro.
É que quando fazia a lista de desejos, na véspera de Ano Novo, pensei por um milésimo de segundo: Também seria bom ter alguém para abraçar...

É preciso muita cautela com o mais fugaz dos desejos. O Divino está sempre nos espreitando, aguardando uma vacilada nossa para exercitar seu estranho senso de humor.