segunda-feira, 22 de setembro de 2008

DAS ÂNCORAS, FREIOS E AMARRAS.

A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro.  - John Lennon

Depois eu escrevo. Só não podia perder a data no blog como perdi na viagem.

terça-feira, 22 de abril de 2008

AVISO-PRÉVIO.

(Caixas de tomate na CEASA - Foto minha enquanto a serviço da pizzaria, é claro)


As coisas que eu mais gosto são muito simples:

Caminhar à tardezinha, pedalar de manhã, café e pão com manteiga na padaria, comprar jornal na banca, comer pastel na feira, Toddy batido no mixer, Chicabom, pudim de leite condensado, tostex de queijo branco, pipoca com molho de pimenta, cochilar na rede lendo um bom livro, cafuné (na careca mesmo), vestir roupa velha bem lavada e bem passada depois de um banho caprichado, viajar de qualquer forma, e conversar... Adoro conversar. Gosto de falar sobre o tempo, sobre comidas, livros, filosofar sobre gentes, experiências e causos... Gosto de ouvir, de forma profunda, de aprender com os outros.

Também amo abraços apertados e beijos estalados como só os verdadeiros amigos e amigas podem retribuir.

Abriria mão de todos meus outros gostos sofisticados para poder usufruir somente destes “momentos essenciais”.

A falta dessas coisas está me angustiando. Estou sendo transformando num ser estranho, anti-social e só, inacreditavelmente só. Pode parecer loucura alguém que tem contato com no mínimo cinqüenta pessoas todos os dias se queixar de solidão, mas não é: Aconteceu que ao longo dos últimos onze anos meus relacionamentos foram se resumindo aos laços comerciais, o César “gente” foi cedendo espaço para o Cury comerciante que praticamente mora numa pizzaria, que trabalha todos os dias e noites e não consegue ir para a cama antes das três da madrugada. Um cara que quando acorda antes das onze é para cumprir com compromissos impostos pelo negócio.

A criatura engoliu o criador que está surtando.

Não agüento mais falar sobre pizzas e cervejas, sorrir forçado da mesma piada contada pela enésima vez, responder que não vi tal peça de teatro, que não fui ao cinema, que não vou ao aniversário de ninguém, que não assisto televisão (não que o fizesse se fosse possível), que não conheço a Pizzaria Bráz, que nunca fui ao Cartun, que perdi o Cirque du Soleil, o show do Chico, do Ney, da Maria Rita, e que há dez anos não vejo o mar.

Claro que a pizzaria me proporcionou conhecer pessoas especiais como Fábio, Karin, Suzy, Gustavo, Israel, Abrão, Neiri, Lobão, Silvinha, Mazon e tantos outros e outras, mas eu não consigo usufruir deles... Quando vão à pizzaria fico dividido entre os amigos e o trabalho e fora da pizzaria eu simplesmente não existo. Nunca consigo estar com eles em outro lugar, aliás eu nunca estou em outro lugar.

Numa tentativa desesperada tentei delegar atribuições para conseguir tempo. Creio que acertei na teoria, mas errei feio na prática: Resultou num retrocesso operacional de uns seis meses e em prejuízos que devem alcançar o equivalente a noventa dias de lucro. – Ta vendo? Nem sei mais falar apenas do que eu sinto, já ia enveredando por assuntos comerciais!

Por tudo isso e, especialmente, porque estou morrendo de saudades de mim, a pizzaria está à venda a partir de hoje.

Se tudo der certo, brevemente a gente se encontra pra um pastel na feira.

domingo, 13 de abril de 2008

SONHO RECORRENTE.



Essa coisa de ficar ouvindo a narrativa de sonhos alheios é quase tão chata quanto ver fotografias das férias dos amigos em Orlando. Mas resolvi escrever (e ilustrar) sobre um sonho recorrente numa tentativa de destravá-lo. Quem sabe assim eu “provoco” os próximos capítulos.

Já tive sonhos recorrentes em diversos períodos, porém há cerca de um ano visito a mesma cena misteriosa ao menos uma vez por semana:

O cenário é muito simples, já foi um deserto, mas ultimamente quase sempre é uma praia. O elemento preponderante é a areia. O sol brilha muito, mas a temperatura é amena. Quando o sonho se passa na praia posso ouvir o barulho do mar, já no deserto, ouço apenas a respiração dos personagens.
Os protagonistas são apenas uma mulher (balzaquiana) e eu. Nós dois usamos calças jeans e mais nada. Normalmente estou sentado sobre meus calcanhares e ela fica postada da mesma forma atrás de mim. Ela usa uma espécie de pincel para escrever diretamente na pele das minhas costas. Quase sempre meu ângulo de visão permite que eu me veja “de fora”, mas nunca consigo ler o que ela escreve, da mesma forma também não tenho oportunidade de ver o seu rosto, sempre coberto por cabelos castanhos avermelhados, quase ruivos. Sua pele é muito branca e tem mãos bonitas.

É claro que rola um forte erotismo, mas o mais marcante é o clima de cumplicidade, de confiança recíproca, de entrega. Sei que, de alguma forma, estabelecemos um pacto de silêncio e, que naquele momento, tudo está perfeito.


Só quando acordo é que sou perturbado pelas dúvidas:

  • Quem é ou como é o rosto dessa mulher?
  • O que ela escreve (ou desenha) em minhas costas?
  • Por que o silêncio?
  • O que significa essa maluquice? Eu dou “suporte” para ela se expressar?
  • Quando verei a próxima cena?

Plim-plim!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Anjo Caboclo Multimídia

Minha primeira (perdão) experiência com essa tecnologia - Baseada no post anterior.

terça-feira, 1 de abril de 2008

ANJO CABOCLO.


DICA: Esse texto é melhor compreendido se lido com sotaque caboclo. Experimente ler em voz alta imitando Rolando Boldrin. Esqueça os plurais e se tiver intimidade com o "estilo" leia assim o 1º parágrafo: "Apreceio o outono cum seus dia di sombra cumprida..."
PS: Hoje (02/04) fiz um filminho narrando essa miração em "caboclês", está na postagem aí de cima

Aprecio o outono com seus dias de sombras compridas..

Tempo bom para caminhar, melhor se for nos caminhos de terra batida e bem clarinha que aumenta o contraste da sombra da gente.

Finjo que a sombra é meu Anjo passeando comigo, que nem cachorro que não é ensinado. Tem hora que dispara, quase some, mas fica me esperando na curva, esse meu aliado. Depois se aquieta um tantinho, passa de um lado, passa de outro e acaba ficando lá pra trás, esperando outra reta com o sol na minha guarda pra me guiar com carinho.

Meu Anjo, quando estica, gosta de brincar. Nos barrancos fica imitando macaco, galinha, marciano. Nos capinzais, quando venta, só quer saber de dançar, já nas lagoas e nos riachos ele mergulha sem medo como que pra me convidar.

Acho que o Anjo da gente é assim também... Ta sempre por perto, brincando, pulando, chamando a gente pra reinar, mas a gente nem percebe, e ele nem deve se chatear, afinal nem mesmo pra LUZ a gente não se habitua olhar.

Os meses de outono são como o agora que a gente não costuma valorizar. É que a cabeça do povo não pára de trabalhar, lembra do calor que já passou, sente medo do frio que ainda vai chegar e esquece de subir num morro ou num telhado que fosse para o pôr-do-sol contemplar.

Sabe de uma coisa? Não vejo a hora de o dia raiar. Vou correr pra alvorada, no meio do nada e os braços e pernas vou esticar. Quero dar pro meu Anjo a sombra de uma estrela pra ele brilhar.

quinta-feira, 27 de março de 2008

DESCONTROLADO, ME ENTREGO.

(Foto de Rui de Almeida Cardoso em www.olhares.com - Portugal)
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Caiu minha panca de invencível. Fiquei de joelhos.

Março foi difícil, especialmente nessa última semana.
Enfrentei um motim na pizzaria que culminou com a saída de quatro “colaboradores”, incluindo o mentor (ou apenas o maior irresponsável) que prestava serviços de consultoria havia menos de três meses. Rita (a boxer) morreu no Domingo de Páscoa, precocemente, com pouco mais de oito anos. Na madrugada de terça-feira ladrões invadiram o restaurante e levaram quase todas as bebidas deixando um buraco na parede e outro no telhado. Tudo isso em meio a revezes financeiros decorrentes do declínio natural das vendas no primeiro trimestre, só que esse ano foi mais drástico.

Para me atordoar ainda mais, ótimas possibilidades se abriram para o projeto Kombinações, porém eu não tive tempo nem o necessário entusiasmo para dar a devida atenção. Pareceu-me muito difícil falar de futuro enquanto o presente estava naufragando.

Aí eu me entreguei, física e espiritualmente. Depois de um banho daqueles que enrugam as pontas dos dedos e encharcam a alma, larguei o corpo exausto em minha cama enorme, que pareceu mais enorme do que nunca.

Invoquei o Divino e falei em voz alta: - Ok, é demais pra mim, até sei o que fazer, mas não quero ou estou sem energia para fazê-lo. Eu abro mão de todo controle. Eu me entrego. Seja feita a Sua vontade.

Na manhã seguinte acordei na mesma posição de crucificado que deitei, semelhante à foto aí em cima. Deviam ser umas 06h30min. Na janela um tiziu parecia me gozar piando e dando cambalhotas. Fiquei contemplando o lustre sobre minha cabeça e enumerando todos os problemas que me aguardavam naquele dia. Sabia que não poderia fugir deles, mas magicamente a gravidade de cada situação foi diluída durante a noite. As fatalidades da noite anterior tornaram-se apenas contratempos que vem sendo sanados com equilíbrio e sabedoria.

É impressionante como nos enganamos a respeito de nossas próprias capacidades, ora achando que podemos carregar o mundo e logo em seguida constatando que essa é uma tarefa grande demais. Para os dois casos deveríamos manter a lucidez de que a vida não é feita de perdas e ganhos, a vida simplesmente é. Sendo assim, o melhor é se entregar a ela, com ética, com responsabilidade, mas sem a ilusão do controle.

Que essa intuição se torne permanente em mim. Quero me manter entregue, “descontrolado”.

sábado, 22 de março de 2008

ESTRANHAS SEMELHANÇAS

Tem gente que me acha fisicamente parecido com o Chico...

Eu acho um pouco disso e mais. Especialmente na busca. Vide destaque.

VIDA

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais


Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz

quinta-feira, 20 de março de 2008

O ÔNUS DO CARRASCO.

É inevitável. Terei que fazer novamente.

Perdi a conta de quantas pessoas tive que demitir. É sempre um peso enorme para mim que jamais fui exonerado. Não conheço essa rejeição e talvez, até por isso, valorize demais a dor do rejeitado.
Tento, numa relação trabalhista, manter um equilíbrio entre o profissionalismo e a cortesia, mas raramente encontro reciprocidade. Novamente estou prestes a demitir alguém que se considera meu amigo, que confundiu trabalho com amizade.
Simplesmente não posso tolerar, bem que gostaria, mas não posso. Minha pequena empresa sobrevive graças ao rígido controle sobre cada gasto, cada investimento e não posso me dar ao luxo de dar asas a mais um sonhador como eu.
Essa é a maior dor: Estou afiando a lâmina da guilhotina para degolar alguém muito parecido comigo. Quando ele me procurou e desfiou seu rosário de atributos profissionais, ajudei-o a me convencer que seria uma ótima oportunidade para nós dois. Estávamos divagando no irreal mundo das hipóteses otimistas. Supus que ele conhecesse o caminho das pedras para fazer da pizzaria o negócio que sempre sonhei. O ideal que até então era só meu, naquela hora pareceu partilhado, compreendido.
Com o passar dos meses descobri que ele só tinha aquilo para me dar, ou seja, meus próprios sonhos.
Todas as melhorias implantadas por ele eram óbvias havia anos, só faltava a ação que ocorreu em duas ou três semanas. Aí o encanto acabou.
O aumento no faturamento desde a sua chegada nunca sequer cobriu a remuneração que recebe, ou seja: Contribuiu bastante, mas seu estoque de inovações acabou ou esbarrou na capacidade de investimento da pizzaria. A conta não fecha mais. Não tem como continuar.
Além de todos os detalhes econômicos, existem os entraves pessoais: Não posso mais conviver com alguém que tomou meu lugar de sonhador, que é mais irresponsável que eu, bebe mais do que eu, que aumentou minha carga de trabalho, criou desarmonia interna e externa e ainda por cima, ganha mais do que eu.
Enquanto não tomo coragem para dizer “hasta luego, baby”, ficarei aqui contemplando o brilho da lâmina e o engenhoso mecanismo da guilhotina como se o pescoço fosse de importância secundária. Assim fica mais fácil superar o desânimo que me referi na postagem anterior.

Ao carrasco restam os respingos e o inesquecível olhar do degolado. Nenhuma glória.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Milagre.


(Foto: Paulo Madeira em www.olhares.com -Portugal)
Vazio.
Sensação de vazio.
Não é depressão, é um buraco. Às vezes me pega e quer me sugar.
Aprendi que lutar é inútil, então encaro como uma pequena morte.
Para curar repito mentalmente a Oração de São Francisco que é uma súplica no avesso, onde a gente se oferece para servir. Simultaneamente tento convencer minha alma que tudo faz sentido, que esse “nada” é o espaço adequado para a plenitude que virá em seguida, porque “é morrendo que se vive para a vida eterna”. Sempre funciona. Está funcionando agora.
Sei que em alguns dias estarei novamente mais satisfeito com tudo e com o nada também.
Deve ser o milagre da Páscoa que nos é oferecido todos os dias.

Dica: Clique aqui.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ioga não é Yoga, mas é bom também.

Acabei de ler IOGA PARA QUEM NÃO ESTÁ NEM AÍ de Geoff Dyer (Companhia das Letras) com excelente tradução (ou versão) de Sergio Flaksman.

O cara narra situações hilárias, nos lugares mais estranhos do planeta e/ou da sua alma.

Recomendo.