quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ioga não é Yoga, mas é bom também.

Acabei de ler IOGA PARA QUEM NÃO ESTÁ NEM AÍ de Geoff Dyer (Companhia das Letras) com excelente tradução (ou versão) de Sergio Flaksman.

O cara narra situações hilárias, nos lugares mais estranhos do planeta e/ou da sua alma.

Recomendo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

DÃO ENCHE!

Resolução tardia de ano-novo:

A partir de hoje (decidi ontem) só vou me dedicar às exigências da pizzaria após as 13H00min. Isso reduz minha rotina para apenas 12 ou 13 horas diárias, sete dias por semana.

Comecei mal: Acordei muito antes das nove, como pretendia, com uma ligação a cobrar no meu celular. Era o entregador de papel higiênico:

-Seo Celso?
-Dão, César. _Falei surpreso com a voz de pato que saiu de minha boca e com a garganta arranhado também.
-Posso falar com seo Celso?
-Dão dem nenhum Celso aqui. Beu nome é César. Bode ser?
-Ah, seo “Cérzar”, eu to aqui pra entregar seus produtos da Kimberly. O senhor pode abrir o restaurante?
-Dão bai dar. O horário de entrega dão ta escrito aí na nota?
-Tá sim, mas é que eu vim aqui perto...
-E eu to longe. Bolta à tarde.
-Posso deixar na vizinha?
-Dão! Bolta no horário que está aí na porra da nota-biscal!
-O senhor não precisa ficar nervoso.
-Dão precisava mesmo, boi bocê que me deixou assim. Bolta à tarde conforme o combinado com a bendedora.
-Tudo bem então. Obrigado.
-Dão tem de quê.

Olhei pra manhã perfeita e a minha bicicleta na varanda. Tive ímpetos de ignorar o resfriado que se alojou em mim durante a noite, mas fui interrompido em meus planos por uma crise de tosse.

-Dudo bem. Bica bra amanhã. _Grasnei sozinho.

O celular tocou a cobrar novamente:

-Alô!
-Seo "Cérzar"?
-Dão, o César saiu.
-É que...Nada não. Pode deixar.

Quando eu nunca estive lá. - Foreigners.


Hoje é só uma dica: A (linda) escritora brasileira Daniela Abade reuniu outros seis escritores de lugares diversos do planeta para que cada um escrevesse uma (óbvia) ficção sobre uma cidade que nunca visitaram. Resumindo: Os escritores trocaram entre si as cidades e as estão usando como cenário para suas histórias. O projeto é dinâmico e com atualizações semanais (no mínimo). A idéia é genial e o pouco do que pude ver promete muito.
Visite: http://interney.net/foreigners/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os Amigos, Os Inimigos e Os Tolerados.

Foto de F. Monteiro em www. olhares.com


Meu filho me goza dizendo que eu sou um cara de “amizade fácil” e é verdade. Depois do muito prazer, meu nome é César, vou falando da minha vida, felicidades e dificuldades sem muito cuidado. Acho natural, não tenho (muito) que esconder ou me envergonhar.
Esse comportamento é um campo fértil para quem confunde bonzinho com bobinho e, ao longo do tempo, venho colecionando “tolerados”.

Há alguns anos, quando eu tinha uns trinta e poucos, época em que li inúmeros e idênticos livros de auto-ajuda, fui levado a concluir que eu era portador de uma baixíssima capacidade de perdão e que essa característica era a grande responsável pela sensação de “fragmentação do meu ser”.
Passei uma década ou mais me “auto-fodendo” por conta da minha suposta inabilidade de perdoar incondicionalmente. As pessoas me ferravam e, não bastante isso, eu me sentia incompleto, pecador e indigno por não conseguir “perdoa-las de coração”.
Hoje, que superei a segunda adolescência (dos 30 aos 40), concluí temporariamente que sou ruim em perdoar os traidores, os fracos, os canalhas, os mentirosos, os hipócritas e assemelhados exatamente porque não aceito esses comportamentos em mim.
Posso culpar ou louvar a inflexibilidade da educação que recebi de meus pais, o código de honra que absorvi de meus irmãos mais velhos que “pastam”, como eu, nas mesmas “campinas da verdade acima de tudo”, mas nenhuma das minhas dores me fará ser complacente comigo mesmo, muito menos com os outros.
Suporto e até convivo com as grandes mancadas e respectivos argumentos e desculpas, as fraquezas confessas ou não, porém de forma intelectual, técnica, mas lá dentro, em meu coração, quem trai, mente ou fraqueja nos negócios, na amizade ou no amor estará destinado ao meu “limbo pessoal”: Daqui pra frente tolero-te, e só.
Li em algum lugar que tolerar é a pior forma de odiar, pois não carrega sequer uma carga de emoção, é apenas desprezo dissimulado em cortesia e uso cuidadoso.

Cruel?

Não é bem assim.
Antes de tudo ofereci minha “amizade fácil e sincera”, como diz meu filho. Nunca prometi ser um babaca de estimação.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

GANHANDO TEMPO.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Inveja.

Chega de inveja!

Já que ninguém faz um depoimento pra mim no Orkut, fá-lo-ei eu mesmo...





Nota do editor: Esse depoimento é (ou não) uma obra de ficção. As pessoas reais ou imaginárias citadas nesse documento são uma só. Homenageado e homenageante citados aqui como CÉSAR, EU, MIM OU NÓS, autorizaram essa publicação. Qualquer semelhança com fatos e pessoas reais deve-se a uma estranha coincidência, previsível homonimidade ou péssima literatura.

César. O que dizer do César? – (Depoimento no Orkut que se preza começa assim).
Se não fosse por mim, hoje eu não estaria aqui fazendo esse depoimento. Eu sempre estive ao meu lado. Mesmo contrariado, jamais me abandonei. Nos momentos mais significativos de toda minha vida eu estava presente: Sofri comigo, alegrei-me comigo, sonhei comigo e desiludi-me comigo.
São tantos anos, possivelmente encarnações, que caminhamos juntos, mim e eu, que não consigo imaginar um dia a gente se separar. Creia amigo, no dia que formos dessa para melhor, batermos as botas, abotoarmos o paletó de madeira, irei contigo sem discutir ou talvez, só um pouquinho.
Sei que meu carinho e compreensão por mim são incondicionais, às vezes penso que mim e eu somos até mais do que uma única pessoa. Eu perdôo quase tudo que eu me faço e eu, por minha vez, me compreendo e me consolo até nas minhas fraquezas mais sórdidas.
Mim e eu não temos segredos entre nós, nossa vida é um livro aberto e mal escrito, mas nós adoramos reler-me.
Não posso esquecer dos amigos que eu me apresentei. Quase todos gostam tanto de mim quanto de nós. Pensam que somos inseparáveis. É porque não conhecem nossas rusgas secretas. Tem dias que tenho vontade de me estrangular, de ir embora e nunca mais olhar na minha cara, mas nossa unidade é maior e eu perdôo a mim como se o erro fosse meu.
Naqueles dias em que estou pra baixo, depressivo, eu venho em meu socorro e não adianta nada. Quando, porém, eu estou alegre, expansivo, divertido, acabo pondo mais lenha na fogueira e, muitas vezes, passo do limite, o que causa em mim, que sou mais tímido do que eu, certo constrangimento. Que eu me perdoe, não faço para envergonhar-me.
Enfim, querido César, escrevo aqui esse humilde depoimento para dizer muito pouco sobre a enorme importância que eu tenho pra mim. Saiba que meu apreço por mim é tão grande que nem que mil anos se passem, nem que os deuses desçam do Olimpo, nem que o efeito estufa nos torre, jamais me deixarei sozinho.
Conte sempre comigo.
Me amo.
Meu amigo, Eu.

Gotas de Otimismo.

Tem dias como ontem, antes de ontem e, possivelmente hoje também, que a gente se sente como que no meio de um quebra-quebra na feira, tal a quantidade de pepinos, nabos e abacaxis que caem sem trégua sobre nossas cabeças. Sempre que me sobra algum equilíbrio, supero melhor esses períodos utilizando a meditação dinâmica, que é aquela que a gente faz enquanto, por exemplo, está apanhando. O fundo musical mais adequado que encontrei até hoje para esse “exercício” é a excelente interpretação de Rita Lee para uma composição (pasme) de Moacyr Franco que me leva de volta à real dimensão de minhas derrotas, assim como de minhas vitórias.

TUDO VIRA BOSTA.
Moacyr Franco.

O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
Prometido e não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta

O vinho branco, a cachaça, o chopp escuro
O herói e o dedo-duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e meu futuro
Tudo vira bosta

Um dia depois não me vire as costas
Salvemos nós dois, tudo vira bosta

Filé “minhão”, “champinhão”
Don “perrinhão”, salsichão, arroz, feijão
Muçulmano e cristão
A mercedez e o fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O foundue, o mocotó
Pavarotti e xororó
Minha eguinha pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta

Um dia depois não me vire as costas
Salvemos nós dois, tudo vira bosta

A rabada, o tutu, o frango assado
O jiló e o quiabo
A prostituta e o deputado
A virtude e o pecado
Esse governo e o passado
Vai você que eu tô cansado
Tudo vira bosta

Um dia depois não me vire as costas
Salvemos nós dois, tudo vira bosta

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Silenciosamente.

Foto: Elsa Água em www.olhares.com

Bendito seja o não dito,
Só gestos e olhares.
Toques, descobertas

Inúteis palavras, calam-se.
Nas línguas, sabores
De peles, cabelos.

Dizer... Nada.
Tato, quietude, sombra e luz
Isso basta, porque

O corpo, a alma e a mente,
silenciosamente,
não mentem,
quando sentem.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

NEM FREUD (nem sai de cima).


CAPÍTULO I – O LOUCO.
Quinta-feira, 07/02/2008 – 02H45min.

Li preocupado o e-mail de uma amiga doce e fatalista de manifestações bissextas.

"César querido.

Fiquei feliz em descobrir que você acabou com o jejum de textos novos no seu blog, mas muito preocupada com o conteúdo das últimas postagens.
Você passou o Natal e o Reveillon sozinho, depois fez pouco dos desígnios de Deus, recomendou que os narcisistas se jogassem numa fogueira, usou e abusou do foda-se isso, foda-se aquilo, irritou-se com as chuvas e com o Carnaval e ainda raspou totalmente os cabelos. [...] quero que saiba que compreendo suas angústias até porque já passei, como você bem se lembra, por períodos difíceis e, graças a ajuda profissional, venci meus demônios em poucos meses.[...]
Blá, etc. & tal, conte comigo.
Beijinhos na careca.
C."


CAPÍTULO II – O BONECO.
Quinta feira, 07/02/2008 – 21H50min.

Quando o Lula se preparava para disputar a reeleição encomendei do Edson, um artista catarinense, uma espécie de caricatura tridimensional do nosso ilustre re-presidenciável para decorar o República. Nada mais apropriado para uma pizzaria que tem a política como tema.
Desde que chegou, esse boneco foi surrado e quase esquartejado pelos clientes e ficou tão maltratado e maltrapilho que o escondemos no mezanino. Semana passada, decidi restaura-lo.
Um pouco de paciência e cola-quente farão uma verdadeira plástica em nosso mascote, pensei.
Levei o cabeçudo para casa.


CAPÍTULO III – O ANALISTA.
Domingo, 10/02/2008 – 02H25min.

Noite de Sábado perfeita na pizzaria. Casa cheia, só elogios.

Cheguei ao ninho trazendo pouco mais de meia garrafa de um cabernet argentino que abri lá pelas onze da noite e não consegui dar conta. Ao acender a luz quase enfartei com o "Lula" sentado ao computador. Tentei inutilmente me lembrar como é que ele foi parar lá. Até agora não me recordo quando e porque o movi do sofá.
Tomei um banho caprichado e fui conferir os e-mails, blog, Orkut, toda essa parafernália contemporânea que nos mantém em contato com o lado mais humano dos nossos amigos.
Ajeitei o boneco novamente no sofá e quando me servia de um pouco de vinho ouvi claramente uma voz masculina (não rouca), pausada e profunda me pedir:

- Para mim também, por favor...

- Orra meu, que susto! Quem, ou o que, é você?

-Meu nome é Sigmund. Sou psicanalista, na verdade, o pai de todos eles, e estou aqui para ajuda-lo.
-Graças à Deus! Achei que minha amiga estava certa. Confesso que por um instante pensei que era o presidente falando comigo.
-Diga aí Sig, o que o traz aqui assim dentro dessa, digamos, encarnação tão pitoresca?
- Foi o seu foco na correspondência da sua amiga que permitiu que eu incorporasse “nisso”.
- Você não está muito confortável nesse corpo, né?
- É que meu perfil é mais tucano e convém a um analista ficar em cima do muro.
- Compreendo.
- Essa fala é minha!
- Tudo bem, desculpe. Por onde começamos?
- Vou traçar seu perfil a partir de associações. Eu digo uma palavra e você diz a primeira coisa que lhe vier à cabeça. Ok?
- Certo. Conheço o método.
- Vinho.
- Sangue!
-
Não! Ainda não começou! Estou te pedindo que me sirva o vinho!
- Perdão! Aqui está.
- Vamos começar então: Razão.

- Esquece Sig. Isso não vai dar certo. Eu me sinto fazendo um teste de personalidade da revista Contigo. To tão constrangido que vou falsear as respostas. Que tal você me perguntar como tenho andado?
- Ok. Como está sua vida?
- SO-BRE-CAR-RE-GA-DA!
- Percebi certo peso em sua voz... Fale mais a respeito.
- O
peso foi intencional, sabichão. Por isso que eu “disse” sobrecarregada em maiúsculas e sílaba por sílaba. Não suporto mais solicitações. Elas vêm de todos os lados: funcionários, clientes, fornecedores... Minha vida profissional se tornou uma samsara estúpida de milhões de coisas minhas e alheias por fazer, resolver e cuidar e nada por finalizar. O problema não é matar um leão por dia, mas matar o mesmo leão todos os dias... Ô bicho chato!
-
Mude de vida, de ocupação.
- Essa é a intenção. Tenho o projeto da viagem, preciso de tempo para cuidar dele, mas o tal leão não deixa.
-
Foi esse leão que deixou você amargo nas últimas postagens?
- Não estava amargo. Só não estava e nem ando muito disposto a adular ninguém. Sorrir forçado dá rugas e escrever só amenidades é como usar botox na alma. Não sou tão compreensivo assim. Compreensão é o seu ofício, para mim é apenas uma virtude.
- Aquela estória de queimar os vaidosos... Qual seu problema com espelhos?

- Não tenho problema algum com o espelho. Talvez só um pouquinho. O que me perturba é essa ditadura do modelo de beleza, de moda. Estou mesmo é com o saco cheio dessa pasteurização estética. Repare nas mulheres com a mesma tinta no cabelo, adeptas da chapinha, dos óculos para-brisa-de-caminhão e por aí vai. O mais grave é que não ficam apenas na aparência, estão pasteurizando as conversas, as gírias, os trejeitos, o conteúdo. Isso, aposto, é resultado de vaidades mal resolvidas.
- Sua cabeça raspada é um protesto?

- Muito “pelo contrário.” Perdão pelo trocadilho.
È um exercício de liberdade. Comecei a trabalhar com o público aos 14 anos e não tive a oportunidade de deixar meus cabelos (quando os tinha em abundância) crescerem como fez minha geração. Amadureci almofadinha por conta da necessária imagem comercial. Hoje não preciso mais disso e posso arriscar layouts diferentes. Eu até gostaria de ter um crânio negróide, perfeitamente esférico, mas essa cabeça de turco também não é tão feia quanto eu imaginava antes de raspá-la. Uma amiga me chamou de corajoso, outra disse que fiquei sexy. Isso deve ser um empate.
- Será que a segunda não confundiu sexy com fálico? HÁHÁHÁHÁHÁ! Desculpe! Perco o cliente, mas não perco a piada!
Já que tocamos no assunto...
-Demorou hein Sig. Mas isso vai ficar para a próxima sessão. Mesmo porque, para falar de sexo, vou precisar de regressão.

SINCRONICIDADE.

Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal, mas por relação de significado. A sincronicidade é também chamada por Jung de "coincidência significativa".

(fonte: Wikpédia)

Isso explica (ou eu forço) a razão de estar aqui às 4 da manhã velando minhas neuroses e fantasias enquanto quem as provocou provavelmente dorme. Dá sentido ainda ao fato de seu nome ser escrito com letras como o meu e de ter nascido no século XX, exatamente como eu.
E as nossas diferenças então... Ah, essas são biologicamente compatíveis! Aleluia! Aleluia!
Por via das dúvidas (lugar comum) e aconselhamento amigo (idem), procurei ajuda profissional.

Confira na próxima postagem.

Em tempo: O ego continua firme e forte. Vide assinatura na ilustração.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

EGO

O último
da festa.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

ESCREVO, bLOGO, EXISTO.

-O Paulinho me disse que você tem um blog...
Perguntou o conhecido de muitos anos e recentemente freqüentador cada vez mais assíduo da pizzaria. Ele vinha de uma farra carnavalesca vespertina e passou no República para comer alguma coisa na intenção amenizar os efeitos da bebida que (o) consumiu a tarde toda.
-É verdade. Há quase um ano que escrevo lá.
-Pra que?
-Como assim?
-Pra que você escreve? Qual objetivo? O que você pretende com isso?
-Não sei te responder agora. Talvez possa fazê-lo por escrito, no próprio blog.


Acordei irritado com a pergunta dele e, durante o dia, formulei centenas de respostas, algumas poucas vou colocar nesse post.

  • Uma das vantagens de se ter um blog é expressar de forma pública e permanente opiniões e posturas que numa conversa iriam gerar conflitos. Por exemplo: No caso desse cidadão que me inquiriu sobre a utilidade dos meus escritos, aproveito a oportunidade (na esperança de que um dia ele leia), para repudiar suas convicções anti-semitas. Para mim, todas as discriminações e preconceitos são deploráveis, exceto se o objeto for um preconceituoso consciente, culto e assumido, como é o caso desse sujeito. Uso ainda o presente texto para dar a ele mais dados sobre o meu “pedigree”: O sangue que corre em minhas veias tem componentes libaneses (razão do meu sobrenome) e espanhóis pelo lado do meu pai, porém, do lado materno, descobri não faz muitos anos, que o Marques não é lusitano como quase todo mundo pensa. É apenas um velho e comum sobrenome judeu-alemão que foi aportuguesado: Marx, como Carl Marx. Minha mãe, católica fervorosa, só soube disso meses antes de morrer e achou divertido. Sentiu-se livre do fardo de todas as piadas de portugueses que ouviu durante seus quase 80 anos.
  • Escrevo também para me orientar. Quando começo a perder o rumo, releio coisas que coloquei no papel (ou na internet) e me reencontro feliz em alguns momentos, depressivo em outros. Essa releitura (abomino essa palavra, mas não encontrei outra melhor) de mim me conduz de volta aos caminhos que quero escolher, ou me dão nova interpretação sobre o que estou vivendo. É muito mais barato e eficaz que fazer análise (que me perdoem Isaac, Jacó, Sarah, Abrão e todos “briminhos” judeus que vivem da psicanálise).
  • Ao escrever e publicar estou procurando por ecos, por vidas inteligentes “extra-meu-mundo”, numa imitação do projeto S.E.T.I. (Search for Extra-Terrestrial Intelligence). A arrogância aqui não é minha, apenas a peguei emprestada como exemplo: Não me julgo tão inteligente diante da humanidade quanto essa em relação ao universo.
  • Escrevo para abafar minha solidão. Não falo aqui da ausência de pessoas que tenho até demais ao meu redor. Refiro-me à solidão de quem não é ouvido atentamente, de quem se sente como um mero adversário de argumentos. Sinto-me só quando tento expor o que penso e encontro, ao invés de atenção e respeito, gladiadores das palavras dispostos até a negar a razão para me derrotar. Não sei ainda o motivo de atrair esses embates.
  • Escrevo porque amo a solidão.
  • Escrevo porque sou palavra. Meu filho é som e ritmo, , meu irmão, é forma e cor, eu sou palavra.
  • Escrevo numa medíocre tentativa de retribuição a todos que li e leio.
  • Publico para aplacar minha culpa de voyeur de blogs. Ao longo dos meses venho colecionando pessoas que não conheço e seus escritos. Coloquei os links de suas páginas em meus favoritos e fico aflito quando eles demoram em atualizar. Alguns escrevem como se bailassem, tal a harmonia que conseguem em seus textos, outros são rudes, econômicos, porém não menos viciantes. O que temos em comum, imagino, é essa coceira. Parece que tudo o que vivemos, cremos ou sentimos só se torna real e de valor se ganhar uma versão escrita. Segue aqui a indicação de alguns dos meus prediletos:

Ana Pessoa: http://ana.pessoa.blog.uol.com.br/index.html

Anna Basseto: http://annabasseto.blogspot.com/

Antonio Lino: http://dizquefuiporai.blogspot.com/

Carô: http://porcimadaminhasacada.blogspot.com/

Gio: http://quemundopequeno.blogspot.com/

Y.Y.: http://www.eunaoseitrigonometria.blogspot.com/

  • Escrevo por utopia. Quero fundar uma tribo. Todos de almas nuas, expostas escancaradas e devidamente documentadas. Se não sou mais como escrevi, assumo, não nego: Mudei.
  • Escrevo por compulsão. Como um cleptomaníaco me apodero de cenas, situações e palavras que nem sempre são minhas. Roubo dores, prazeres e estórias. Às vezes invento, aumento ou acrescento e, quando ponho o ponto final, não me sinto melhor ou pior, apenas completo, repleto nem mesmo sei de que.

Para encerrar, confesso: Gostaria de escrever bem, na verdade, gostaria de apenas escrever. Eu nunca escrevo, sempre reescrevo, inúmeras vezes e submeto o recém-nascido texto a tantas revisões que acaba perdendo a espontaneidade que gostaria de imprimir. Escrevo, reviso e reescrevo. Mal e doentiamente. Além disso, tenho um pé na dislexia e me surpreendo com um 5, Z ou 2 no lugar de um S ou ainda um 6 no lugar do G, ou ainda pior troco V por F e vice e versa. Cada parágrafo é um mini-parto e, já que revelei isso, cifro em minhas deficiências o derradeiro recado ao mala inspirador dessa postagem:

FAI ZE VODER!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

BARBADA!

DESCONTO INCRÍVEL!

Super oferta encontrada na Etna no domingo de Carnaval que vai render um post que já tem até nome: Homens de Preto. Aguarde.




Perdão pela foto de celular.

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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Carnaval, na real.















Estou rabugento, por isso o texto vai assim mesmo, pior que o habitual.

Acho Carnaval de cidade grande um pé no saco.
O que acontece de especial nesses quatro dias numa metrópole como Campinas que não role em outra data qualquer? Ainda tem gente que se reprime o ano todo pra rasgar a fantasia, soltar a franga, chutar o pau da barraca e/ou sair do armário nessa época?
Duvido!
Não vejo o reinado de Momo como uma manifestação artística, cultural, ou o entrelaçamento de classes sociais e todas as outras bobagens que me ensinaram na escola para justificar a esbórnia nacional. Naquela época, putaria e porre com data marcada era motivo de orgulho para o valoroso povo brasileiro. Vendíamos para nós mesmos a imagem subjacente que nos outros 361 dias do ano éramos “gente aproveitável”.

As superproduções da indústria do samba são tão fundamentais para a sociedade brasileira quanto o Big Brother Brasil: Programa pra bobo assistir, votar, torcer e consumir toneladas de porcarias anunciadas pelos mascarados da vez. A mesma máscara negra que esconde teu rosto, mercado.

Tem mais:
Já disse Saint-Exupéry que “tudo na vida há que ter ritual”. Isso justificaria o Carnaval se ainda vivêssemos sob repressões sociais, sexuais, intelectuais. Fazer com entusiasmo artificial o que se faz todos os dias é como rir por obrigação.
O Carnaval não é mais contraponto de nada, só uma data para praticar de forma ainda mais irresponsável o livre arbítrio que para as gerações passadas era utopia:

-Eu sou aquele pierrot, que te abraçou, que te beijou meu amor...
-Qual dos 53, querido?

-Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval...
-Não enrola. Beija logo que a fila anda...

-Oh, quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...
-Cadê o Extase? Eu não tô nessa viagem, não.
°o0o°
Sabe o que me deixou assim tão ranzinza?
-Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.
-Foda-se. Ninguém mais sabe o que é uma camélia.

Rosna...rosna...rosna!!! Rrrrrrrrrrrrrrr!
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