segunda-feira, 22 de setembro de 2008

DAS ÂNCORAS, FREIOS E AMARRAS.

A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro.  - John Lennon

Depois eu escrevo. Só não podia perder a data no blog como perdi na viagem.

terça-feira, 22 de abril de 2008

AVISO-PRÉVIO.

(Caixas de tomate na CEASA - Foto minha enquanto a serviço da pizzaria, é claro)


As coisas que eu mais gosto são muito simples:

Caminhar à tardezinha, pedalar de manhã, café e pão com manteiga na padaria, comprar jornal na banca, comer pastel na feira, Toddy batido no mixer, Chicabom, pudim de leite condensado, tostex de queijo branco, pipoca com molho de pimenta, cochilar na rede lendo um bom livro, cafuné (na careca mesmo), vestir roupa velha bem lavada e bem passada depois de um banho caprichado, viajar de qualquer forma, e conversar... Adoro conversar. Gosto de falar sobre o tempo, sobre comidas, livros, filosofar sobre gentes, experiências e causos... Gosto de ouvir, de forma profunda, de aprender com os outros.

Também amo abraços apertados e beijos estalados como só os verdadeiros amigos e amigas podem retribuir.

Abriria mão de todos meus outros gostos sofisticados para poder usufruir somente destes “momentos essenciais”.

A falta dessas coisas está me angustiando. Estou sendo transformando num ser estranho, anti-social e só, inacreditavelmente só. Pode parecer loucura alguém que tem contato com no mínimo cinqüenta pessoas todos os dias se queixar de solidão, mas não é: Aconteceu que ao longo dos últimos onze anos meus relacionamentos foram se resumindo aos laços comerciais, o César “gente” foi cedendo espaço para o Cury comerciante que praticamente mora numa pizzaria, que trabalha todos os dias e noites e não consegue ir para a cama antes das três da madrugada. Um cara que quando acorda antes das onze é para cumprir com compromissos impostos pelo negócio.

A criatura engoliu o criador que está surtando.

Não agüento mais falar sobre pizzas e cervejas, sorrir forçado da mesma piada contada pela enésima vez, responder que não vi tal peça de teatro, que não fui ao cinema, que não vou ao aniversário de ninguém, que não assisto televisão (não que o fizesse se fosse possível), que não conheço a Pizzaria Bráz, que nunca fui ao Cartun, que perdi o Cirque du Soleil, o show do Chico, do Ney, da Maria Rita, e que há dez anos não vejo o mar.

Claro que a pizzaria me proporcionou conhecer pessoas especiais como Fábio, Karin, Suzy, Gustavo, Israel, Abrão, Neiri, Lobão, Silvinha, Mazon e tantos outros e outras, mas eu não consigo usufruir deles... Quando vão à pizzaria fico dividido entre os amigos e o trabalho e fora da pizzaria eu simplesmente não existo. Nunca consigo estar com eles em outro lugar, aliás eu nunca estou em outro lugar.

Numa tentativa desesperada tentei delegar atribuições para conseguir tempo. Creio que acertei na teoria, mas errei feio na prática: Resultou num retrocesso operacional de uns seis meses e em prejuízos que devem alcançar o equivalente a noventa dias de lucro. – Ta vendo? Nem sei mais falar apenas do que eu sinto, já ia enveredando por assuntos comerciais!

Por tudo isso e, especialmente, porque estou morrendo de saudades de mim, a pizzaria está à venda a partir de hoje.

Se tudo der certo, brevemente a gente se encontra pra um pastel na feira.

domingo, 13 de abril de 2008

SONHO RECORRENTE.



Essa coisa de ficar ouvindo a narrativa de sonhos alheios é quase tão chata quanto ver fotografias das férias dos amigos em Orlando. Mas resolvi escrever (e ilustrar) sobre um sonho recorrente numa tentativa de destravá-lo. Quem sabe assim eu “provoco” os próximos capítulos.

Já tive sonhos recorrentes em diversos períodos, porém há cerca de um ano visito a mesma cena misteriosa ao menos uma vez por semana:

O cenário é muito simples, já foi um deserto, mas ultimamente quase sempre é uma praia. O elemento preponderante é a areia. O sol brilha muito, mas a temperatura é amena. Quando o sonho se passa na praia posso ouvir o barulho do mar, já no deserto, ouço apenas a respiração dos personagens.
Os protagonistas são apenas uma mulher (balzaquiana) e eu. Nós dois usamos calças jeans e mais nada. Normalmente estou sentado sobre meus calcanhares e ela fica postada da mesma forma atrás de mim. Ela usa uma espécie de pincel para escrever diretamente na pele das minhas costas. Quase sempre meu ângulo de visão permite que eu me veja “de fora”, mas nunca consigo ler o que ela escreve, da mesma forma também não tenho oportunidade de ver o seu rosto, sempre coberto por cabelos castanhos avermelhados, quase ruivos. Sua pele é muito branca e tem mãos bonitas.

É claro que rola um forte erotismo, mas o mais marcante é o clima de cumplicidade, de confiança recíproca, de entrega. Sei que, de alguma forma, estabelecemos um pacto de silêncio e, que naquele momento, tudo está perfeito.


Só quando acordo é que sou perturbado pelas dúvidas:

  • Quem é ou como é o rosto dessa mulher?
  • O que ela escreve (ou desenha) em minhas costas?
  • Por que o silêncio?
  • O que significa essa maluquice? Eu dou “suporte” para ela se expressar?
  • Quando verei a próxima cena?

Plim-plim!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Anjo Caboclo Multimídia

Minha primeira (perdão) experiência com essa tecnologia - Baseada no post anterior.

terça-feira, 1 de abril de 2008

ANJO CABOCLO.


DICA: Esse texto é melhor compreendido se lido com sotaque caboclo. Experimente ler em voz alta imitando Rolando Boldrin. Esqueça os plurais e se tiver intimidade com o "estilo" leia assim o 1º parágrafo: "Apreceio o outono cum seus dia di sombra cumprida..."
PS: Hoje (02/04) fiz um filminho narrando essa miração em "caboclês", está na postagem aí de cima

Aprecio o outono com seus dias de sombras compridas..

Tempo bom para caminhar, melhor se for nos caminhos de terra batida e bem clarinha que aumenta o contraste da sombra da gente.

Finjo que a sombra é meu Anjo passeando comigo, que nem cachorro que não é ensinado. Tem hora que dispara, quase some, mas fica me esperando na curva, esse meu aliado. Depois se aquieta um tantinho, passa de um lado, passa de outro e acaba ficando lá pra trás, esperando outra reta com o sol na minha guarda pra me guiar com carinho.

Meu Anjo, quando estica, gosta de brincar. Nos barrancos fica imitando macaco, galinha, marciano. Nos capinzais, quando venta, só quer saber de dançar, já nas lagoas e nos riachos ele mergulha sem medo como que pra me convidar.

Acho que o Anjo da gente é assim também... Ta sempre por perto, brincando, pulando, chamando a gente pra reinar, mas a gente nem percebe, e ele nem deve se chatear, afinal nem mesmo pra LUZ a gente não se habitua olhar.

Os meses de outono são como o agora que a gente não costuma valorizar. É que a cabeça do povo não pára de trabalhar, lembra do calor que já passou, sente medo do frio que ainda vai chegar e esquece de subir num morro ou num telhado que fosse para o pôr-do-sol contemplar.

Sabe de uma coisa? Não vejo a hora de o dia raiar. Vou correr pra alvorada, no meio do nada e os braços e pernas vou esticar. Quero dar pro meu Anjo a sombra de uma estrela pra ele brilhar.

quinta-feira, 27 de março de 2008

DESCONTROLADO, ME ENTREGO.

(Foto de Rui de Almeida Cardoso em www.olhares.com - Portugal)
--- --- ---

Caiu minha panca de invencível. Fiquei de joelhos.

Março foi difícil, especialmente nessa última semana.
Enfrentei um motim na pizzaria que culminou com a saída de quatro “colaboradores”, incluindo o mentor (ou apenas o maior irresponsável) que prestava serviços de consultoria havia menos de três meses. Rita (a boxer) morreu no Domingo de Páscoa, precocemente, com pouco mais de oito anos. Na madrugada de terça-feira ladrões invadiram o restaurante e levaram quase todas as bebidas deixando um buraco na parede e outro no telhado. Tudo isso em meio a revezes financeiros decorrentes do declínio natural das vendas no primeiro trimestre, só que esse ano foi mais drástico.

Para me atordoar ainda mais, ótimas possibilidades se abriram para o projeto Kombinações, porém eu não tive tempo nem o necessário entusiasmo para dar a devida atenção. Pareceu-me muito difícil falar de futuro enquanto o presente estava naufragando.

Aí eu me entreguei, física e espiritualmente. Depois de um banho daqueles que enrugam as pontas dos dedos e encharcam a alma, larguei o corpo exausto em minha cama enorme, que pareceu mais enorme do que nunca.

Invoquei o Divino e falei em voz alta: - Ok, é demais pra mim, até sei o que fazer, mas não quero ou estou sem energia para fazê-lo. Eu abro mão de todo controle. Eu me entrego. Seja feita a Sua vontade.

Na manhã seguinte acordei na mesma posição de crucificado que deitei, semelhante à foto aí em cima. Deviam ser umas 06h30min. Na janela um tiziu parecia me gozar piando e dando cambalhotas. Fiquei contemplando o lustre sobre minha cabeça e enumerando todos os problemas que me aguardavam naquele dia. Sabia que não poderia fugir deles, mas magicamente a gravidade de cada situação foi diluída durante a noite. As fatalidades da noite anterior tornaram-se apenas contratempos que vem sendo sanados com equilíbrio e sabedoria.

É impressionante como nos enganamos a respeito de nossas próprias capacidades, ora achando que podemos carregar o mundo e logo em seguida constatando que essa é uma tarefa grande demais. Para os dois casos deveríamos manter a lucidez de que a vida não é feita de perdas e ganhos, a vida simplesmente é. Sendo assim, o melhor é se entregar a ela, com ética, com responsabilidade, mas sem a ilusão do controle.

Que essa intuição se torne permanente em mim. Quero me manter entregue, “descontrolado”.

sábado, 22 de março de 2008

ESTRANHAS SEMELHANÇAS

Tem gente que me acha fisicamente parecido com o Chico...

Eu acho um pouco disso e mais. Especialmente na busca. Vide destaque.

VIDA

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais


Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz

quinta-feira, 20 de março de 2008

O ÔNUS DO CARRASCO.

É inevitável. Terei que fazer novamente.

Perdi a conta de quantas pessoas tive que demitir. É sempre um peso enorme para mim que jamais fui exonerado. Não conheço essa rejeição e talvez, até por isso, valorize demais a dor do rejeitado.
Tento, numa relação trabalhista, manter um equilíbrio entre o profissionalismo e a cortesia, mas raramente encontro reciprocidade. Novamente estou prestes a demitir alguém que se considera meu amigo, que confundiu trabalho com amizade.
Simplesmente não posso tolerar, bem que gostaria, mas não posso. Minha pequena empresa sobrevive graças ao rígido controle sobre cada gasto, cada investimento e não posso me dar ao luxo de dar asas a mais um sonhador como eu.
Essa é a maior dor: Estou afiando a lâmina da guilhotina para degolar alguém muito parecido comigo. Quando ele me procurou e desfiou seu rosário de atributos profissionais, ajudei-o a me convencer que seria uma ótima oportunidade para nós dois. Estávamos divagando no irreal mundo das hipóteses otimistas. Supus que ele conhecesse o caminho das pedras para fazer da pizzaria o negócio que sempre sonhei. O ideal que até então era só meu, naquela hora pareceu partilhado, compreendido.
Com o passar dos meses descobri que ele só tinha aquilo para me dar, ou seja, meus próprios sonhos.
Todas as melhorias implantadas por ele eram óbvias havia anos, só faltava a ação que ocorreu em duas ou três semanas. Aí o encanto acabou.
O aumento no faturamento desde a sua chegada nunca sequer cobriu a remuneração que recebe, ou seja: Contribuiu bastante, mas seu estoque de inovações acabou ou esbarrou na capacidade de investimento da pizzaria. A conta não fecha mais. Não tem como continuar.
Além de todos os detalhes econômicos, existem os entraves pessoais: Não posso mais conviver com alguém que tomou meu lugar de sonhador, que é mais irresponsável que eu, bebe mais do que eu, que aumentou minha carga de trabalho, criou desarmonia interna e externa e ainda por cima, ganha mais do que eu.
Enquanto não tomo coragem para dizer “hasta luego, baby”, ficarei aqui contemplando o brilho da lâmina e o engenhoso mecanismo da guilhotina como se o pescoço fosse de importância secundária. Assim fica mais fácil superar o desânimo que me referi na postagem anterior.

Ao carrasco restam os respingos e o inesquecível olhar do degolado. Nenhuma glória.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Milagre.


(Foto: Paulo Madeira em www.olhares.com -Portugal)
Vazio.
Sensação de vazio.
Não é depressão, é um buraco. Às vezes me pega e quer me sugar.
Aprendi que lutar é inútil, então encaro como uma pequena morte.
Para curar repito mentalmente a Oração de São Francisco que é uma súplica no avesso, onde a gente se oferece para servir. Simultaneamente tento convencer minha alma que tudo faz sentido, que esse “nada” é o espaço adequado para a plenitude que virá em seguida, porque “é morrendo que se vive para a vida eterna”. Sempre funciona. Está funcionando agora.
Sei que em alguns dias estarei novamente mais satisfeito com tudo e com o nada também.
Deve ser o milagre da Páscoa que nos é oferecido todos os dias.

Dica: Clique aqui.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ioga não é Yoga, mas é bom também.

Acabei de ler IOGA PARA QUEM NÃO ESTÁ NEM AÍ de Geoff Dyer (Companhia das Letras) com excelente tradução (ou versão) de Sergio Flaksman.

O cara narra situações hilárias, nos lugares mais estranhos do planeta e/ou da sua alma.

Recomendo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

DÃO ENCHE!

Resolução tardia de ano-novo:

A partir de hoje (decidi ontem) só vou me dedicar às exigências da pizzaria após as 13H00min. Isso reduz minha rotina para apenas 12 ou 13 horas diárias, sete dias por semana.

Comecei mal: Acordei muito antes das nove, como pretendia, com uma ligação a cobrar no meu celular. Era o entregador de papel higiênico:

-Seo Celso?
-Dão, César. _Falei surpreso com a voz de pato que saiu de minha boca e com a garganta arranhado também.
-Posso falar com seo Celso?
-Dão dem nenhum Celso aqui. Beu nome é César. Bode ser?
-Ah, seo “Cérzar”, eu to aqui pra entregar seus produtos da Kimberly. O senhor pode abrir o restaurante?
-Dão bai dar. O horário de entrega dão ta escrito aí na nota?
-Tá sim, mas é que eu vim aqui perto...
-E eu to longe. Bolta à tarde.
-Posso deixar na vizinha?
-Dão! Bolta no horário que está aí na porra da nota-biscal!
-O senhor não precisa ficar nervoso.
-Dão precisava mesmo, boi bocê que me deixou assim. Bolta à tarde conforme o combinado com a bendedora.
-Tudo bem então. Obrigado.
-Dão tem de quê.

Olhei pra manhã perfeita e a minha bicicleta na varanda. Tive ímpetos de ignorar o resfriado que se alojou em mim durante a noite, mas fui interrompido em meus planos por uma crise de tosse.

-Dudo bem. Bica bra amanhã. _Grasnei sozinho.

O celular tocou a cobrar novamente:

-Alô!
-Seo "Cérzar"?
-Dão, o César saiu.
-É que...Nada não. Pode deixar.

Quando eu nunca estive lá. - Foreigners.


Hoje é só uma dica: A (linda) escritora brasileira Daniela Abade reuniu outros seis escritores de lugares diversos do planeta para que cada um escrevesse uma (óbvia) ficção sobre uma cidade que nunca visitaram. Resumindo: Os escritores trocaram entre si as cidades e as estão usando como cenário para suas histórias. O projeto é dinâmico e com atualizações semanais (no mínimo). A idéia é genial e o pouco do que pude ver promete muito.
Visite: http://interney.net/foreigners/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os Amigos, Os Inimigos e Os Tolerados.

Foto de F. Monteiro em www. olhares.com


Meu filho me goza dizendo que eu sou um cara de “amizade fácil” e é verdade. Depois do muito prazer, meu nome é César, vou falando da minha vida, felicidades e dificuldades sem muito cuidado. Acho natural, não tenho (muito) que esconder ou me envergonhar.
Esse comportamento é um campo fértil para quem confunde bonzinho com bobinho e, ao longo do tempo, venho colecionando “tolerados”.

Há alguns anos, quando eu tinha uns trinta e poucos, época em que li inúmeros e idênticos livros de auto-ajuda, fui levado a concluir que eu era portador de uma baixíssima capacidade de perdão e que essa característica era a grande responsável pela sensação de “fragmentação do meu ser”.
Passei uma década ou mais me “auto-fodendo” por conta da minha suposta inabilidade de perdoar incondicionalmente. As pessoas me ferravam e, não bastante isso, eu me sentia incompleto, pecador e indigno por não conseguir “perdoa-las de coração”.
Hoje, que superei a segunda adolescência (dos 30 aos 40), concluí temporariamente que sou ruim em perdoar os traidores, os fracos, os canalhas, os mentirosos, os hipócritas e assemelhados exatamente porque não aceito esses comportamentos em mim.
Posso culpar ou louvar a inflexibilidade da educação que recebi de meus pais, o código de honra que absorvi de meus irmãos mais velhos que “pastam”, como eu, nas mesmas “campinas da verdade acima de tudo”, mas nenhuma das minhas dores me fará ser complacente comigo mesmo, muito menos com os outros.
Suporto e até convivo com as grandes mancadas e respectivos argumentos e desculpas, as fraquezas confessas ou não, porém de forma intelectual, técnica, mas lá dentro, em meu coração, quem trai, mente ou fraqueja nos negócios, na amizade ou no amor estará destinado ao meu “limbo pessoal”: Daqui pra frente tolero-te, e só.
Li em algum lugar que tolerar é a pior forma de odiar, pois não carrega sequer uma carga de emoção, é apenas desprezo dissimulado em cortesia e uso cuidadoso.

Cruel?

Não é bem assim.
Antes de tudo ofereci minha “amizade fácil e sincera”, como diz meu filho. Nunca prometi ser um babaca de estimação.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

GANHANDO TEMPO.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Inveja.

Chega de inveja!

Já que ninguém faz um depoimento pra mim no Orkut, fá-lo-ei eu mesmo...





Nota do editor: Esse depoimento é (ou não) uma obra de ficção. As pessoas reais ou imaginárias citadas nesse documento são uma só. Homenageado e homenageante citados aqui como CÉSAR, EU, MIM OU NÓS, autorizaram essa publicação. Qualquer semelhança com fatos e pessoas reais deve-se a uma estranha coincidência, previsível homonimidade ou péssima literatura.

César. O que dizer do César? – (Depoimento no Orkut que se preza começa assim).
Se não fosse por mim, hoje eu não estaria aqui fazendo esse depoimento. Eu sempre estive ao meu lado. Mesmo contrariado, jamais me abandonei. Nos momentos mais significativos de toda minha vida eu estava presente: Sofri comigo, alegrei-me comigo, sonhei comigo e desiludi-me comigo.
São tantos anos, possivelmente encarnações, que caminhamos juntos, mim e eu, que não consigo imaginar um dia a gente se separar. Creia amigo, no dia que formos dessa para melhor, batermos as botas, abotoarmos o paletó de madeira, irei contigo sem discutir ou talvez, só um pouquinho.
Sei que meu carinho e compreensão por mim são incondicionais, às vezes penso que mim e eu somos até mais do que uma única pessoa. Eu perdôo quase tudo que eu me faço e eu, por minha vez, me compreendo e me consolo até nas minhas fraquezas mais sórdidas.
Mim e eu não temos segredos entre nós, nossa vida é um livro aberto e mal escrito, mas nós adoramos reler-me.
Não posso esquecer dos amigos que eu me apresentei. Quase todos gostam tanto de mim quanto de nós. Pensam que somos inseparáveis. É porque não conhecem nossas rusgas secretas. Tem dias que tenho vontade de me estrangular, de ir embora e nunca mais olhar na minha cara, mas nossa unidade é maior e eu perdôo a mim como se o erro fosse meu.
Naqueles dias em que estou pra baixo, depressivo, eu venho em meu socorro e não adianta nada. Quando, porém, eu estou alegre, expansivo, divertido, acabo pondo mais lenha na fogueira e, muitas vezes, passo do limite, o que causa em mim, que sou mais tímido do que eu, certo constrangimento. Que eu me perdoe, não faço para envergonhar-me.
Enfim, querido César, escrevo aqui esse humilde depoimento para dizer muito pouco sobre a enorme importância que eu tenho pra mim. Saiba que meu apreço por mim é tão grande que nem que mil anos se passem, nem que os deuses desçam do Olimpo, nem que o efeito estufa nos torre, jamais me deixarei sozinho.
Conte sempre comigo.
Me amo.
Meu amigo, Eu.

Gotas de Otimismo.

Tem dias como ontem, antes de ontem e, possivelmente hoje também, que a gente se sente como que no meio de um quebra-quebra na feira, tal a quantidade de pepinos, nabos e abacaxis que caem sem trégua sobre nossas cabeças. Sempre que me sobra algum equilíbrio, supero melhor esses períodos utilizando a meditação dinâmica, que é aquela que a gente faz enquanto, por exemplo, está apanhando. O fundo musical mais adequado que encontrei até hoje para esse “exercício” é a excelente interpretação de Rita Lee para uma composição (pasme) de Moacyr Franco que me leva de volta à real dimensão de minhas derrotas, assim como de minhas vitórias.

TUDO VIRA BOSTA.
Moacyr Franco.

O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
Prometido e não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta

O vinho branco, a cachaça, o chopp escuro
O herói e o dedo-duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e meu futuro
Tudo vira bosta

Um dia depois não me vire as costas
Salvemos nós dois, tudo vira bosta

Filé “minhão”, “champinhão”
Don “perrinhão”, salsichão, arroz, feijão
Muçulmano e cristão
A mercedez e o fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O foundue, o mocotó
Pavarotti e xororó
Minha eguinha pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta

Um dia depois não me vire as costas
Salvemos nós dois, tudo vira bosta

A rabada, o tutu, o frango assado
O jiló e o quiabo
A prostituta e o deputado
A virtude e o pecado
Esse governo e o passado
Vai você que eu tô cansado
Tudo vira bosta

Um dia depois não me vire as costas
Salvemos nós dois, tudo vira bosta

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Silenciosamente.

Foto: Elsa Água em www.olhares.com

Bendito seja o não dito,
Só gestos e olhares.
Toques, descobertas

Inúteis palavras, calam-se.
Nas línguas, sabores
De peles, cabelos.

Dizer... Nada.
Tato, quietude, sombra e luz
Isso basta, porque

O corpo, a alma e a mente,
silenciosamente,
não mentem,
quando sentem.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

NEM FREUD (nem sai de cima).


CAPÍTULO I – O LOUCO.
Quinta-feira, 07/02/2008 – 02H45min.

Li preocupado o e-mail de uma amiga doce e fatalista de manifestações bissextas.

"César querido.

Fiquei feliz em descobrir que você acabou com o jejum de textos novos no seu blog, mas muito preocupada com o conteúdo das últimas postagens.
Você passou o Natal e o Reveillon sozinho, depois fez pouco dos desígnios de Deus, recomendou que os narcisistas se jogassem numa fogueira, usou e abusou do foda-se isso, foda-se aquilo, irritou-se com as chuvas e com o Carnaval e ainda raspou totalmente os cabelos. [...] quero que saiba que compreendo suas angústias até porque já passei, como você bem se lembra, por períodos difíceis e, graças a ajuda profissional, venci meus demônios em poucos meses.[...]
Blá, etc. & tal, conte comigo.
Beijinhos na careca.
C."


CAPÍTULO II – O BONECO.
Quinta feira, 07/02/2008 – 21H50min.

Quando o Lula se preparava para disputar a reeleição encomendei do Edson, um artista catarinense, uma espécie de caricatura tridimensional do nosso ilustre re-presidenciável para decorar o República. Nada mais apropriado para uma pizzaria que tem a política como tema.
Desde que chegou, esse boneco foi surrado e quase esquartejado pelos clientes e ficou tão maltratado e maltrapilho que o escondemos no mezanino. Semana passada, decidi restaura-lo.
Um pouco de paciência e cola-quente farão uma verdadeira plástica em nosso mascote, pensei.
Levei o cabeçudo para casa.


CAPÍTULO III – O ANALISTA.
Domingo, 10/02/2008 – 02H25min.

Noite de Sábado perfeita na pizzaria. Casa cheia, só elogios.

Cheguei ao ninho trazendo pouco mais de meia garrafa de um cabernet argentino que abri lá pelas onze da noite e não consegui dar conta. Ao acender a luz quase enfartei com o "Lula" sentado ao computador. Tentei inutilmente me lembrar como é que ele foi parar lá. Até agora não me recordo quando e porque o movi do sofá.
Tomei um banho caprichado e fui conferir os e-mails, blog, Orkut, toda essa parafernália contemporânea que nos mantém em contato com o lado mais humano dos nossos amigos.
Ajeitei o boneco novamente no sofá e quando me servia de um pouco de vinho ouvi claramente uma voz masculina (não rouca), pausada e profunda me pedir:

- Para mim também, por favor...

- Orra meu, que susto! Quem, ou o que, é você?

-Meu nome é Sigmund. Sou psicanalista, na verdade, o pai de todos eles, e estou aqui para ajuda-lo.
-Graças à Deus! Achei que minha amiga estava certa. Confesso que por um instante pensei que era o presidente falando comigo.
-Diga aí Sig, o que o traz aqui assim dentro dessa, digamos, encarnação tão pitoresca?
- Foi o seu foco na correspondência da sua amiga que permitiu que eu incorporasse “nisso”.
- Você não está muito confortável nesse corpo, né?
- É que meu perfil é mais tucano e convém a um analista ficar em cima do muro.
- Compreendo.
- Essa fala é minha!
- Tudo bem, desculpe. Por onde começamos?
- Vou traçar seu perfil a partir de associações. Eu digo uma palavra e você diz a primeira coisa que lhe vier à cabeça. Ok?
- Certo. Conheço o método.
- Vinho.
- Sangue!
-
Não! Ainda não começou! Estou te pedindo que me sirva o vinho!
- Perdão! Aqui está.
- Vamos começar então: Razão.

- Esquece Sig. Isso não vai dar certo. Eu me sinto fazendo um teste de personalidade da revista Contigo. To tão constrangido que vou falsear as respostas. Que tal você me perguntar como tenho andado?
- Ok. Como está sua vida?
- SO-BRE-CAR-RE-GA-DA!
- Percebi certo peso em sua voz... Fale mais a respeito.
- O
peso foi intencional, sabichão. Por isso que eu “disse” sobrecarregada em maiúsculas e sílaba por sílaba. Não suporto mais solicitações. Elas vêm de todos os lados: funcionários, clientes, fornecedores... Minha vida profissional se tornou uma samsara estúpida de milhões de coisas minhas e alheias por fazer, resolver e cuidar e nada por finalizar. O problema não é matar um leão por dia, mas matar o mesmo leão todos os dias... Ô bicho chato!
-
Mude de vida, de ocupação.
- Essa é a intenção. Tenho o projeto da viagem, preciso de tempo para cuidar dele, mas o tal leão não deixa.
-
Foi esse leão que deixou você amargo nas últimas postagens?
- Não estava amargo. Só não estava e nem ando muito disposto a adular ninguém. Sorrir forçado dá rugas e escrever só amenidades é como usar botox na alma. Não sou tão compreensivo assim. Compreensão é o seu ofício, para mim é apenas uma virtude.
- Aquela estória de queimar os vaidosos... Qual seu problema com espelhos?

- Não tenho problema algum com o espelho. Talvez só um pouquinho. O que me perturba é essa ditadura do modelo de beleza, de moda. Estou mesmo é com o saco cheio dessa pasteurização estética. Repare nas mulheres com a mesma tinta no cabelo, adeptas da chapinha, dos óculos para-brisa-de-caminhão e por aí vai. O mais grave é que não ficam apenas na aparência, estão pasteurizando as conversas, as gírias, os trejeitos, o conteúdo. Isso, aposto, é resultado de vaidades mal resolvidas.
- Sua cabeça raspada é um protesto?

- Muito “pelo contrário.” Perdão pelo trocadilho.
È um exercício de liberdade. Comecei a trabalhar com o público aos 14 anos e não tive a oportunidade de deixar meus cabelos (quando os tinha em abundância) crescerem como fez minha geração. Amadureci almofadinha por conta da necessária imagem comercial. Hoje não preciso mais disso e posso arriscar layouts diferentes. Eu até gostaria de ter um crânio negróide, perfeitamente esférico, mas essa cabeça de turco também não é tão feia quanto eu imaginava antes de raspá-la. Uma amiga me chamou de corajoso, outra disse que fiquei sexy. Isso deve ser um empate.
- Será que a segunda não confundiu sexy com fálico? HÁHÁHÁHÁHÁ! Desculpe! Perco o cliente, mas não perco a piada!
Já que tocamos no assunto...
-Demorou hein Sig. Mas isso vai ficar para a próxima sessão. Mesmo porque, para falar de sexo, vou precisar de regressão.

SINCRONICIDADE.

Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal, mas por relação de significado. A sincronicidade é também chamada por Jung de "coincidência significativa".

(fonte: Wikpédia)

Isso explica (ou eu forço) a razão de estar aqui às 4 da manhã velando minhas neuroses e fantasias enquanto quem as provocou provavelmente dorme. Dá sentido ainda ao fato de seu nome ser escrito com letras como o meu e de ter nascido no século XX, exatamente como eu.
E as nossas diferenças então... Ah, essas são biologicamente compatíveis! Aleluia! Aleluia!
Por via das dúvidas (lugar comum) e aconselhamento amigo (idem), procurei ajuda profissional.

Confira na próxima postagem.

Em tempo: O ego continua firme e forte. Vide assinatura na ilustração.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

EGO

O último
da festa.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

ESCREVO, bLOGO, EXISTO.

-O Paulinho me disse que você tem um blog...
Perguntou o conhecido de muitos anos e recentemente freqüentador cada vez mais assíduo da pizzaria. Ele vinha de uma farra carnavalesca vespertina e passou no República para comer alguma coisa na intenção amenizar os efeitos da bebida que (o) consumiu a tarde toda.
-É verdade. Há quase um ano que escrevo lá.
-Pra que?
-Como assim?
-Pra que você escreve? Qual objetivo? O que você pretende com isso?
-Não sei te responder agora. Talvez possa fazê-lo por escrito, no próprio blog.


Acordei irritado com a pergunta dele e, durante o dia, formulei centenas de respostas, algumas poucas vou colocar nesse post.

  • Uma das vantagens de se ter um blog é expressar de forma pública e permanente opiniões e posturas que numa conversa iriam gerar conflitos. Por exemplo: No caso desse cidadão que me inquiriu sobre a utilidade dos meus escritos, aproveito a oportunidade (na esperança de que um dia ele leia), para repudiar suas convicções anti-semitas. Para mim, todas as discriminações e preconceitos são deploráveis, exceto se o objeto for um preconceituoso consciente, culto e assumido, como é o caso desse sujeito. Uso ainda o presente texto para dar a ele mais dados sobre o meu “pedigree”: O sangue que corre em minhas veias tem componentes libaneses (razão do meu sobrenome) e espanhóis pelo lado do meu pai, porém, do lado materno, descobri não faz muitos anos, que o Marques não é lusitano como quase todo mundo pensa. É apenas um velho e comum sobrenome judeu-alemão que foi aportuguesado: Marx, como Carl Marx. Minha mãe, católica fervorosa, só soube disso meses antes de morrer e achou divertido. Sentiu-se livre do fardo de todas as piadas de portugueses que ouviu durante seus quase 80 anos.
  • Escrevo também para me orientar. Quando começo a perder o rumo, releio coisas que coloquei no papel (ou na internet) e me reencontro feliz em alguns momentos, depressivo em outros. Essa releitura (abomino essa palavra, mas não encontrei outra melhor) de mim me conduz de volta aos caminhos que quero escolher, ou me dão nova interpretação sobre o que estou vivendo. É muito mais barato e eficaz que fazer análise (que me perdoem Isaac, Jacó, Sarah, Abrão e todos “briminhos” judeus que vivem da psicanálise).
  • Ao escrever e publicar estou procurando por ecos, por vidas inteligentes “extra-meu-mundo”, numa imitação do projeto S.E.T.I. (Search for Extra-Terrestrial Intelligence). A arrogância aqui não é minha, apenas a peguei emprestada como exemplo: Não me julgo tão inteligente diante da humanidade quanto essa em relação ao universo.
  • Escrevo para abafar minha solidão. Não falo aqui da ausência de pessoas que tenho até demais ao meu redor. Refiro-me à solidão de quem não é ouvido atentamente, de quem se sente como um mero adversário de argumentos. Sinto-me só quando tento expor o que penso e encontro, ao invés de atenção e respeito, gladiadores das palavras dispostos até a negar a razão para me derrotar. Não sei ainda o motivo de atrair esses embates.
  • Escrevo porque amo a solidão.
  • Escrevo porque sou palavra. Meu filho é som e ritmo, , meu irmão, é forma e cor, eu sou palavra.
  • Escrevo numa medíocre tentativa de retribuição a todos que li e leio.
  • Publico para aplacar minha culpa de voyeur de blogs. Ao longo dos meses venho colecionando pessoas que não conheço e seus escritos. Coloquei os links de suas páginas em meus favoritos e fico aflito quando eles demoram em atualizar. Alguns escrevem como se bailassem, tal a harmonia que conseguem em seus textos, outros são rudes, econômicos, porém não menos viciantes. O que temos em comum, imagino, é essa coceira. Parece que tudo o que vivemos, cremos ou sentimos só se torna real e de valor se ganhar uma versão escrita. Segue aqui a indicação de alguns dos meus prediletos:

Ana Pessoa: http://ana.pessoa.blog.uol.com.br/index.html

Anna Basseto: http://annabasseto.blogspot.com/

Antonio Lino: http://dizquefuiporai.blogspot.com/

Carô: http://porcimadaminhasacada.blogspot.com/

Gio: http://quemundopequeno.blogspot.com/

Y.Y.: http://www.eunaoseitrigonometria.blogspot.com/

  • Escrevo por utopia. Quero fundar uma tribo. Todos de almas nuas, expostas escancaradas e devidamente documentadas. Se não sou mais como escrevi, assumo, não nego: Mudei.
  • Escrevo por compulsão. Como um cleptomaníaco me apodero de cenas, situações e palavras que nem sempre são minhas. Roubo dores, prazeres e estórias. Às vezes invento, aumento ou acrescento e, quando ponho o ponto final, não me sinto melhor ou pior, apenas completo, repleto nem mesmo sei de que.

Para encerrar, confesso: Gostaria de escrever bem, na verdade, gostaria de apenas escrever. Eu nunca escrevo, sempre reescrevo, inúmeras vezes e submeto o recém-nascido texto a tantas revisões que acaba perdendo a espontaneidade que gostaria de imprimir. Escrevo, reviso e reescrevo. Mal e doentiamente. Além disso, tenho um pé na dislexia e me surpreendo com um 5, Z ou 2 no lugar de um S ou ainda um 6 no lugar do G, ou ainda pior troco V por F e vice e versa. Cada parágrafo é um mini-parto e, já que revelei isso, cifro em minhas deficiências o derradeiro recado ao mala inspirador dessa postagem:

FAI ZE VODER!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

BARBADA!

DESCONTO INCRÍVEL!

Super oferta encontrada na Etna no domingo de Carnaval que vai render um post que já tem até nome: Homens de Preto. Aguarde.




Perdão pela foto de celular.

Posted by Picasa

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Carnaval, na real.















Estou rabugento, por isso o texto vai assim mesmo, pior que o habitual.

Acho Carnaval de cidade grande um pé no saco.
O que acontece de especial nesses quatro dias numa metrópole como Campinas que não role em outra data qualquer? Ainda tem gente que se reprime o ano todo pra rasgar a fantasia, soltar a franga, chutar o pau da barraca e/ou sair do armário nessa época?
Duvido!
Não vejo o reinado de Momo como uma manifestação artística, cultural, ou o entrelaçamento de classes sociais e todas as outras bobagens que me ensinaram na escola para justificar a esbórnia nacional. Naquela época, putaria e porre com data marcada era motivo de orgulho para o valoroso povo brasileiro. Vendíamos para nós mesmos a imagem subjacente que nos outros 361 dias do ano éramos “gente aproveitável”.

As superproduções da indústria do samba são tão fundamentais para a sociedade brasileira quanto o Big Brother Brasil: Programa pra bobo assistir, votar, torcer e consumir toneladas de porcarias anunciadas pelos mascarados da vez. A mesma máscara negra que esconde teu rosto, mercado.

Tem mais:
Já disse Saint-Exupéry que “tudo na vida há que ter ritual”. Isso justificaria o Carnaval se ainda vivêssemos sob repressões sociais, sexuais, intelectuais. Fazer com entusiasmo artificial o que se faz todos os dias é como rir por obrigação.
O Carnaval não é mais contraponto de nada, só uma data para praticar de forma ainda mais irresponsável o livre arbítrio que para as gerações passadas era utopia:

-Eu sou aquele pierrot, que te abraçou, que te beijou meu amor...
-Qual dos 53, querido?

-Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval...
-Não enrola. Beija logo que a fila anda...

-Oh, quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...
-Cadê o Extase? Eu não tô nessa viagem, não.
°o0o°
Sabe o que me deixou assim tão ranzinza?
-Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.
-Foda-se. Ninguém mais sabe o que é uma camélia.

Rosna...rosna...rosna!!! Rrrrrrrrrrrrrrr!
Posted by Picasa

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Bolores de uma noite de verão.












Janeiro vai acabar dentro de algumas horas.
Que leve embora esse (contagiante) mau humor climático que eu preciso de sol.
Estou embolorando!
Veja a umidade aí em cima...
Vietnã!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

CABEÇAS BRILHANTES.

Eles começaram a me abandonar quando eu tinha uns 25 anos. Não dei muita importância na época, pois, aparentemente, os genes que supunha carregar não determinavam um futuro “sem teto” para mim. Meus irmãos, todos mais velhos que eu, ainda hoje ostentam vastas cabeleiras, o que me faz imaginar uma das seguintes alternativas.

(___) Sou adotado.

(___) Sou o mais estressado de todos.

(_X_) Tenho mais testosterona que os três juntos.

Prefiro a última opção, é óbvio.

Há uns quatro anos, por sugestão da Josy, minha ex-cabeleireira, abandonei a tesoura e passei a ser tosquiado com uma máquina com pente # 4 que deixava meus cabelos com 12 mm. O tempo foi passando e acabei me tornando mais ousado: Pente # 3 com 9 mm, depois o # 2 com 6 mm e em abril do ano passado arrisquei o pente # 1 que deixa a penugem com apenas 3 mm.
Em outubro passado tentei marcar hora com a Josy durante duas semanas. O salão andava abarrotado de clientes e parece que, depois que adotei a máquina de tosquiar, fui relegado ao nível de freguês de segunda categoria. Faz sentido, uma cabeleireira cuida de cabelos e esses eu quase já não os tinha mais. Foi assim que comprei minha própria maquininha pelo equivalente a duas visitas ao salão da Josy.
Descobri que é muito fácil usa-la e o melhor é que sempre está disponível, não tenho que conciliar meu tempo com uma vaga na disputadíssima agenda da cabeleireira.

Em dezembro último, deparei com uma foto da estonteante Natalie Portman careca. Sempre achei super-atraentes as mulheres de cabelo muito curto e essa foto me impressionou tanto que acabei virando um colecionador de escalpos. Comecei com as mulheres, depois passei aos galãs, mais tarde adquiri algumas carecas santas e outras que nos fazem felizes. Fucei tanto que acabei descobrindo no site Worth1000.com até aquelas que não existem, mas gostaríamos de ver. Mesmo grande, minha coleção estava ficando monótona, então, domingo passado, tirei o pente # 1 do tosquiador e entrei para a confraria das cabeças brilhantes.

AS BELAS:Tudo bem, a Britney não merecia estar aqui.

FAMOSOS & CHARMOSOS:

OS CARECAS DO BEM:

CARECAS QUE NOS FAZEM FELIZES:

CARECAS QUE GOSTARÍAMOS DE VER:

e EU:
















Com a Hebe ao fundo em 29/01/2008 numa pose para a revista Viagem & Turismo de fevereiro.
Parece que a matéria vai sair sem foto, deve ser preconceito do editor (cabeludo).

domingo, 27 de janeiro de 2008

FOGUEIRAS & VAIDADES.


Auto-retrato em sombra líquida no Ribeirão das Cabras.

Acho que foi numa crônica do Veríssimo onde li: “O fogo era a TV do homem das cavernas”. O autor discorria sobre o fascínio que as chamas ainda hoje exercem sobre os seres humanos. Concordo plenamente e acrescento: Somos todos potencialmente “pirolátras” – termo que acabei de inventar por considerar bem mais adequado que piromaníacos.
Basta uma vela para ficarmos hipnotizados e quanto maior o fogo, mais “piramos” nele.
Nós, humanos de 2008, ainda gostamos de nos sentar junto a uma fogueira, uma lareira, ou um fogão a lenha e de quando-em-quando nos surpreendemos divagando nas mais altas estruturas filosóficas que conseguimos alcançar. Diante do fogo somos impelidos ao silêncio, à meditação e fazemos isso publicamente, sem o menor pudor, muitas vezes em grupos. Contemplar as chamas nos afasta dos interesses materiais e nos conduz à pensamentos mais elevados.

Outro hábito não menos automático e também de raízes ancestrais, é o de se auto-analisar diante do nosso reflexo, até de nossa sombra. Ninguém resiste a um espelho, mas só nos dedicamos a uma observação minuciosa de nossa carcaça se não houver testemunhas. Em público apenas damos uma breve espiada para conferir se não estamos muito inadequados (usando nossos critérios) aos olhos dos outros observadores. Já, na intimidade de nosso quarto ou banheiro, diante de espelhos confidentes e discretos, ousamos esmiuçar cada poro de nosso corpo, quase sempre em busca de imperfeições e maneiras de corrigi-las ou disfarça-las. A coreografia ridícula que (quase) todos nós praticamos quando nos entregamos a auto-observação (encolher a barriga, endireitar as costas, arrebitar a bunda, fazer caretas) só é superada pela mediocridade do que realmente se passa em nossas cabeças nesse momento: Não sou suficientemente bonito, gostosa, charmoso, peituda quanto gostaria.

Essa fixação na imagem incompleta que os espelhos nos oferecem é que gera cada vez mais pessoas bonitas e vazias e a espantosa prosperidade das clínicas de estética.
Na frente do espelho tendemos a perder a espontaneidade e corremos o risco de levar essa encenação para além dos limites da nossa intimidade, como se tudo fosse um “reality-show” do eu-pra-mim. Um passo da total insanidade.

Resumindo o paradigma: Quando contemplamos o fogo nos introspectamos e temos pensamentos nobres, mas na própria observação, tendemos a desenvolver idéias primitivas sobre nosso papel nessa existência.

Se não fosse pelo aquecimento global, iria propor uma campanha mundial: Troque seu espelho por uma fogueira. Se nem assim se sentir mais feliz, jogue-se nela.


sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Outras cores.

Outro dia, passando em frente a casa-teatro-atelier (um dia explico) do Sebastian e da Natasha, aqui em Joaquim Egídio, vi essas caixinhas de madeira multi-coloridas e me lembrei de uma conversa que tive com um cliente da pizzaria (elevado à categoria de amigo), o Mark.
Mr. Mark é norte-americano recém chegado ao Brasil e o "bam-bam-bam" para a América Latina de uma multinacional de tintas automotivas.
Ele se disse surpreso com o nosso gosto pela "falta de cores" nos automóveis: -Vocês, brasileiros, só compram carros de cor preta, branca ou prata! Onde estão o calor latino e as referências tropicais?
Ele tem toda razão. A esmagadora maioria dos carros produzidos no Brasil no século XXI ostentam essa falta de cor.
Hipnotizado com o colorido das caixinhas da Natasha, imaginei que os congestinamentos seriam mais suportáveis se não levassemos nossos carros tão a sério.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A PELE NOSSA DE CADA DIA.

Houve um tempo que por questão de praticidade e preguiça todas as minhas roupas tinham apenas tons militares: Variações de verde e de cáqui. Mesmo no escuro podia me vestir adequadamente, pois tudo combinava.
Não sei quando e nem porque novas cores passaram a me cobrir, simplesmente aconteceu.
Claro que não foram as roupas que escolheram morar em meu armário, não são elas as responsáveis por essa atual versão de mim, mas ao contrário: Elas refletem, suponho, um novo olhar que eu coloquei sobre a vida. Existe uma mudança, tão sutil que só percebi essa tarde ao contemplar meus cabides ao sol.
Assim também acontece com as rugas, com a careca, com o grau dos óculos, com o trabalho, os relacionamentos, as convicções, as amizades. Quando acordamos, estamos mudados. Nem melhores, nem piores, apenas diferentes das nossas versões anteriores.
É bom eu prestar mais atenção a todas as pequenas mudanças pra não correr o risco de virar apenas um cabide pendurado na corda da vida e um dia ser surpreendido vestindo uma “pele” que, por apego ao passado, julgue inadequada.

Dica: Cabides no varal multiplicam o espaço, facilitam na hora de passar e se ventar, acontece um carnaval de fantasmas no quintal. (Seria um “almaval" ?)

SAMPA


"Ademito" falta de assunto. Mas esse recurso de postar as fotos direto do Picasa é ótimo.

Borboleta de corrida.


# 08

Por falta de um caminhão...


Joguei nessa placa durante um mês!

Dica de Restaurante

Atenção para a última frase da placa!
Fica aqui pertinho de casa: Km 5,5 da estrada que liga Joaquim Egídio ao Pico das Cabras.
A comida é excelente e o serviço... digamos... excêntrico.
Em primeiro plano, a Judith, minha bike quase debutante.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

CASAQUISTÃO É AQUI.

Assisti hoje Borat. Pra variar, depois de todo mundo.
Sentimentos conflitantes: Ri muito e acabei meio deprê.
Risos por motivos óbvios e um pé na tristeza por conhecer dezenas de migrantes norte-brazucas com sonhos, deslumbramentos e inadequações semelhantes (sobre)vivendo aqui, no “sul maravilha”. Tristes também são os valores dos tidos como civilizados tanto no filme como na vida real.

Seria mais engraçado se fosse total ficção.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

OS DESEJOS, O DESMAIO E O DIVINO GOZADOR.

Foto de Graça Loureiro em Olhares.com

ADVERTÊNCIA: Esse post, para fazer mais sentido deve, preferencialmente, ser lido depois de FELIZES ESCOLHAS NOVAS, a postagem imediatamente anterior a essa.

°oOºO0°

Bem que eu não queria sair de casa hoje, mas tinha que ir aos bancos, dentista e providenciar alguma coisa para o jantar.
Como o tempo era escasso para um almoço, meu filho e eu fomos comer um sanduíche num bar bem bacana no centrinho de Sousas, em frente ao Bradesco. Quando pus na boca o último pedaço do sanduba lacto-vegetariano, vejo uma mão estendendo-se em minha direção. Segui com os olhos o braço que a sustentava e encontrei sobre os ombros o enorme sorriso de um dos caras (na minha visão pecadora de antes da virada do ano) mais chatos e irritantes que, vez ou outra, cruzam o meu caminho, e o pior é que ele me adora!

- César, meu grande amigo! Grande César. Ave César! Chacoalhava minha mão lambuzada de tomate seco.
- Como vai? Perguntei sem demonstrar nenhum entusiasmo, nem interesse.

Foi o suficiente para ele, carregando uma salsicha empanada e uma Coca-Cola, puxar uma cadeira e sentar-se à nossa mesa. Já ia me preparando para levantar quando me lembrei do meu propósito de ESCOLHER minhas emoções e reações (Vide postagem anterior).
Só pode ser brincadeira "da turma lá de cima", pra me testar, pensei.
Recompus-me emocionalmente para “carregar o mala” e driblar o meu impulso de me livrar logo dele. Deu certo! Em poucos segundos consegui vê-lo de forma diferente, no momento em que ele iniciou seu esporte predileto: Dizer de cor a data de meu aniversário, da minha ex-mulher, de todos os meus primos e mais um monte de gente conhecida. Falou com orgulho que sabe de cabeça o “birthday” de 1.010 pessoas e que faz cerca de 7 telefonemas de congratulações todos os dias. Isso é verdade! Há alguns anos, numa manhã deFinados, o telefone tocou em casa às 07h00min em ponto. Quem me conhece sabe que por questões do trabalho noturno e também do ritimo de meu relógio biológico nunca se deve ligar para mim antes das 11h00min “da minha madrugada”.

Do outro lado da linha escuto uma voz masculina cantando Parabéns pra Você!

- Quem é que está falando? Berrei irritado.
- Adivinha.... He, he, he, hiiiiiiii!
- Não pode ser amigo me ligando nessa hora!
- É o Gustavo Freitas Barbado
(nome fictício, claro). Queria ser o primeiro a cumprimentá-lo!
-E você conseguiu Gustavo. Quem foi o FDP que te deu meu telefone? Eu não autorizo a divulgação do meu número pela Telefônica!
-Tenho minhas fontes, amigo! He, he, he, hiiiiiiii!

Deixei-o falando sozinho, joguei o telefone sobre o sofá e voltei para a cama, revoltado!

Hoje porém, graças a minha ESCOLHA de não me irritar, acabei até me divertindo, trocando olhares arregalados com meu filho a cada vez que ele soltava uma de suas pérolas. Foi com pesar que me despedi dele para ir à dentista.

Com a boca aberta e anestesiada, sem mais nada pra pensar, passei a enxergá-lo como um personagem quase que folclórico, não faz mal a ninguém, só é bastante inconveniente, e todas suas intervenções, mesmo que desastradas visam o bem de suas “vítimas”. Fiquei feliz com minha atitude e acabei por inventar um sutil sorriso com a boca escancarada que fez a dentista perguntar se eu estava sentido dor.
Saí da tortura semanal com o beiço mole, mas de bem com a vida e resolvi arriscar buscar um quadro com três Buddhas que tinha visto no Iguatemi dias atrás. Ficará ótimo sobre a cabeceira da cama, pensei.
Dei sorte. O quadro ainda estava lá e o preço baixou vinte por cento. Liquidação de Natal.
Para evitar qualquer outro impulso consumista, peguei o embrulho desajeitado e segui direto para o estacionamento. Foi quando não resisti a um café na Casa do Pão de Queijo, já quase na saída do shopping.
À minha frente, na fila do caixa, havia uma moça, típica freqüentadora de shopping, uns 35 anos, bem vestida, bem penteada, com bolsa de grife e segurando uma sacola da Saraiva. Percebi que dentro tinham uns três livros...
Enquanto ela pagava por um suco e um salgado, fiquei comentando comigo mesmo: Hum.. Bonita... Comprando livros... Talvez não seja tão “patricinha” como aparenta...
Depois de pagar, ela se afastou para a esquerda e sentou-se num daqueles bancos altos. Era a minha vez de ir ao caixa e enquanto a atendente fazia o troco, olhei de relance o rosto da tal moça, agora ao meu lado. Ela também estava olhando pra mim. Vesga, muito vesga, assustadoramente vesga! Mas tão vesga que tive que olhar de novo. Mas seus olhos, dessa vez, estavam normais.
Enquanto eu tentava descobrir que tipo de pegadinha estava sendo vítima, ela deu uma balançada pra trás, como se jogasse os cabelos e quando voltou meteu a testa violentamente no balcão. Larguei o quadro e minha bolsa e consegui ampara-la antes que chegasse ao chão.

- A mulher desmaiou! Gritou alguém.
- Ela sempre tem isso? Perguntou uma senhora.
- Sei lá! Eu não a conheço!
-Como é que você soube que ela ia cair?
-Ela piscou pra mim!
Falei irritado.
-Será que alguém pode chamar a segurança? Berrei.
-A moça do café já foi. Falou uma outra mulher.
Apareceu uma jovem vestida de mico de realejo: A segurança do shopping.
-O que ela tem?
-Não sei moça. Não sou médico. Só sei que ela precisa de ajuda. Tem um ambulatório aqui, né?
-Tem sim, vou chamar pelo rádio.

Enquanto o socorro não vinha, ficamos nós dois lá no chão do café minúsculo, eu sentado sobre os calcanhares, com a cabeça dela recostada no meu peito, o braço esquerdo apoiando suas costas e com a mão direita acariciava seu rosto e tirava os cabelos de sua boca. De tempos em tempos ela ameaçava acordar, olhava pra mim, ficava vesga de novo e apagava. Começou a suar abundantemente, um suor gelado que chegou a molhar minha camiseta.
Até a chegada do socorro, acho que não se passaram nem cinco minutos, mas pareceram horas.
Enquanto as pessoas em volta (semi-histéricas) levantavam hipóteses acerca de ressaca de Reveillon, gravidez, pressão baixa e os cambau, eu cochichava no ouvido dela: - Fica tranqüila, já vai passar, ta tudo bem... Na verdade estava falando para nós dois.
Chegou um pessoal vestido de branco com uma cadeira de rodas e arrebatou-a de meus braços. A moça vestida de mico os seguiu levando a bolsa chique e a sacola de livros.
Levantei-me, meio atordoado. Uma alma boa tinha recolhido e guardado o quadro, minha pochete e a carteira que ficara sobre o caixa.
Tive tempo de ver a cabecinha dela balançando quando a cadeira de rodas fez a curva no corredor.
Finalmente pedi meu café e o sorvi com dificuldade por conta dos lábios ainda adormecidos da anestesia. Repassei calmamente, diante da xícara, as últimas horas do dia. Tive um arrepio quando fiz a ligação do derradeiro episódio com um quase desejo para 2008 que nem cheguei a colocar no papel, pois era incompatível com outro projeto: A viagem solitária de setembro.
É que quando fazia a lista de desejos, na véspera de Ano Novo, pensei por um milésimo de segundo: Também seria bom ter alguém para abraçar...

É preciso muita cautela com o mais fugaz dos desejos. O Divino está sempre nos espreitando, aguardando uma vacilada nossa para exercitar seu estranho senso de humor.