domingo, 27 de janeiro de 2008

FOGUEIRAS & VAIDADES.


Auto-retrato em sombra líquida no Ribeirão das Cabras.

Acho que foi numa crônica do Veríssimo onde li: “O fogo era a TV do homem das cavernas”. O autor discorria sobre o fascínio que as chamas ainda hoje exercem sobre os seres humanos. Concordo plenamente e acrescento: Somos todos potencialmente “pirolátras” – termo que acabei de inventar por considerar bem mais adequado que piromaníacos.
Basta uma vela para ficarmos hipnotizados e quanto maior o fogo, mais “piramos” nele.
Nós, humanos de 2008, ainda gostamos de nos sentar junto a uma fogueira, uma lareira, ou um fogão a lenha e de quando-em-quando nos surpreendemos divagando nas mais altas estruturas filosóficas que conseguimos alcançar. Diante do fogo somos impelidos ao silêncio, à meditação e fazemos isso publicamente, sem o menor pudor, muitas vezes em grupos. Contemplar as chamas nos afasta dos interesses materiais e nos conduz à pensamentos mais elevados.

Outro hábito não menos automático e também de raízes ancestrais, é o de se auto-analisar diante do nosso reflexo, até de nossa sombra. Ninguém resiste a um espelho, mas só nos dedicamos a uma observação minuciosa de nossa carcaça se não houver testemunhas. Em público apenas damos uma breve espiada para conferir se não estamos muito inadequados (usando nossos critérios) aos olhos dos outros observadores. Já, na intimidade de nosso quarto ou banheiro, diante de espelhos confidentes e discretos, ousamos esmiuçar cada poro de nosso corpo, quase sempre em busca de imperfeições e maneiras de corrigi-las ou disfarça-las. A coreografia ridícula que (quase) todos nós praticamos quando nos entregamos a auto-observação (encolher a barriga, endireitar as costas, arrebitar a bunda, fazer caretas) só é superada pela mediocridade do que realmente se passa em nossas cabeças nesse momento: Não sou suficientemente bonito, gostosa, charmoso, peituda quanto gostaria.

Essa fixação na imagem incompleta que os espelhos nos oferecem é que gera cada vez mais pessoas bonitas e vazias e a espantosa prosperidade das clínicas de estética.
Na frente do espelho tendemos a perder a espontaneidade e corremos o risco de levar essa encenação para além dos limites da nossa intimidade, como se tudo fosse um “reality-show” do eu-pra-mim. Um passo da total insanidade.

Resumindo o paradigma: Quando contemplamos o fogo nos introspectamos e temos pensamentos nobres, mas na própria observação, tendemos a desenvolver idéias primitivas sobre nosso papel nessa existência.

Se não fosse pelo aquecimento global, iria propor uma campanha mundial: Troque seu espelho por uma fogueira. Se nem assim se sentir mais feliz, jogue-se nela.


2 comentários:

Júlia disse...

Oi, César!
Que estranho... não recebi nenhum e-mail seu!
Será que não tem como você me ligar?
(11) 3037-4835/ (11) 9494-1835

Se preferir, me passa seu telefone: tenho outro e-mail tb: jugouveia@yahoo.com.br

Estou precisando falar com você com mta urgência!
Obrigada,
Júlia

CESAR CURY disse...

Ok,
Já estou ligando!