quinta-feira, 20 de março de 2008

O ÔNUS DO CARRASCO.

É inevitável. Terei que fazer novamente.

Perdi a conta de quantas pessoas tive que demitir. É sempre um peso enorme para mim que jamais fui exonerado. Não conheço essa rejeição e talvez, até por isso, valorize demais a dor do rejeitado.
Tento, numa relação trabalhista, manter um equilíbrio entre o profissionalismo e a cortesia, mas raramente encontro reciprocidade. Novamente estou prestes a demitir alguém que se considera meu amigo, que confundiu trabalho com amizade.
Simplesmente não posso tolerar, bem que gostaria, mas não posso. Minha pequena empresa sobrevive graças ao rígido controle sobre cada gasto, cada investimento e não posso me dar ao luxo de dar asas a mais um sonhador como eu.
Essa é a maior dor: Estou afiando a lâmina da guilhotina para degolar alguém muito parecido comigo. Quando ele me procurou e desfiou seu rosário de atributos profissionais, ajudei-o a me convencer que seria uma ótima oportunidade para nós dois. Estávamos divagando no irreal mundo das hipóteses otimistas. Supus que ele conhecesse o caminho das pedras para fazer da pizzaria o negócio que sempre sonhei. O ideal que até então era só meu, naquela hora pareceu partilhado, compreendido.
Com o passar dos meses descobri que ele só tinha aquilo para me dar, ou seja, meus próprios sonhos.
Todas as melhorias implantadas por ele eram óbvias havia anos, só faltava a ação que ocorreu em duas ou três semanas. Aí o encanto acabou.
O aumento no faturamento desde a sua chegada nunca sequer cobriu a remuneração que recebe, ou seja: Contribuiu bastante, mas seu estoque de inovações acabou ou esbarrou na capacidade de investimento da pizzaria. A conta não fecha mais. Não tem como continuar.
Além de todos os detalhes econômicos, existem os entraves pessoais: Não posso mais conviver com alguém que tomou meu lugar de sonhador, que é mais irresponsável que eu, bebe mais do que eu, que aumentou minha carga de trabalho, criou desarmonia interna e externa e ainda por cima, ganha mais do que eu.
Enquanto não tomo coragem para dizer “hasta luego, baby”, ficarei aqui contemplando o brilho da lâmina e o engenhoso mecanismo da guilhotina como se o pescoço fosse de importância secundária. Assim fica mais fácil superar o desânimo que me referi na postagem anterior.

Ao carrasco restam os respingos e o inesquecível olhar do degolado. Nenhuma glória.

2 comentários:

Anna Carolina Basseto www.diariodeumaneurotica.com disse...

Hahaha... Desculpe César... mas errou de novo!

CESAR CURY disse...

23/03 - DOMINGO DE PASCOA.
THE GAME IS OVER.