domingo, 10 de fevereiro de 2008

NEM FREUD (nem sai de cima).


CAPÍTULO I – O LOUCO.
Quinta-feira, 07/02/2008 – 02H45min.

Li preocupado o e-mail de uma amiga doce e fatalista de manifestações bissextas.

"César querido.

Fiquei feliz em descobrir que você acabou com o jejum de textos novos no seu blog, mas muito preocupada com o conteúdo das últimas postagens.
Você passou o Natal e o Reveillon sozinho, depois fez pouco dos desígnios de Deus, recomendou que os narcisistas se jogassem numa fogueira, usou e abusou do foda-se isso, foda-se aquilo, irritou-se com as chuvas e com o Carnaval e ainda raspou totalmente os cabelos. [...] quero que saiba que compreendo suas angústias até porque já passei, como você bem se lembra, por períodos difíceis e, graças a ajuda profissional, venci meus demônios em poucos meses.[...]
Blá, etc. & tal, conte comigo.
Beijinhos na careca.
C."


CAPÍTULO II – O BONECO.
Quinta feira, 07/02/2008 – 21H50min.

Quando o Lula se preparava para disputar a reeleição encomendei do Edson, um artista catarinense, uma espécie de caricatura tridimensional do nosso ilustre re-presidenciável para decorar o República. Nada mais apropriado para uma pizzaria que tem a política como tema.
Desde que chegou, esse boneco foi surrado e quase esquartejado pelos clientes e ficou tão maltratado e maltrapilho que o escondemos no mezanino. Semana passada, decidi restaura-lo.
Um pouco de paciência e cola-quente farão uma verdadeira plástica em nosso mascote, pensei.
Levei o cabeçudo para casa.


CAPÍTULO III – O ANALISTA.
Domingo, 10/02/2008 – 02H25min.

Noite de Sábado perfeita na pizzaria. Casa cheia, só elogios.

Cheguei ao ninho trazendo pouco mais de meia garrafa de um cabernet argentino que abri lá pelas onze da noite e não consegui dar conta. Ao acender a luz quase enfartei com o "Lula" sentado ao computador. Tentei inutilmente me lembrar como é que ele foi parar lá. Até agora não me recordo quando e porque o movi do sofá.
Tomei um banho caprichado e fui conferir os e-mails, blog, Orkut, toda essa parafernália contemporânea que nos mantém em contato com o lado mais humano dos nossos amigos.
Ajeitei o boneco novamente no sofá e quando me servia de um pouco de vinho ouvi claramente uma voz masculina (não rouca), pausada e profunda me pedir:

- Para mim também, por favor...

- Orra meu, que susto! Quem, ou o que, é você?

-Meu nome é Sigmund. Sou psicanalista, na verdade, o pai de todos eles, e estou aqui para ajuda-lo.
-Graças à Deus! Achei que minha amiga estava certa. Confesso que por um instante pensei que era o presidente falando comigo.
-Diga aí Sig, o que o traz aqui assim dentro dessa, digamos, encarnação tão pitoresca?
- Foi o seu foco na correspondência da sua amiga que permitiu que eu incorporasse “nisso”.
- Você não está muito confortável nesse corpo, né?
- É que meu perfil é mais tucano e convém a um analista ficar em cima do muro.
- Compreendo.
- Essa fala é minha!
- Tudo bem, desculpe. Por onde começamos?
- Vou traçar seu perfil a partir de associações. Eu digo uma palavra e você diz a primeira coisa que lhe vier à cabeça. Ok?
- Certo. Conheço o método.
- Vinho.
- Sangue!
-
Não! Ainda não começou! Estou te pedindo que me sirva o vinho!
- Perdão! Aqui está.
- Vamos começar então: Razão.

- Esquece Sig. Isso não vai dar certo. Eu me sinto fazendo um teste de personalidade da revista Contigo. To tão constrangido que vou falsear as respostas. Que tal você me perguntar como tenho andado?
- Ok. Como está sua vida?
- SO-BRE-CAR-RE-GA-DA!
- Percebi certo peso em sua voz... Fale mais a respeito.
- O
peso foi intencional, sabichão. Por isso que eu “disse” sobrecarregada em maiúsculas e sílaba por sílaba. Não suporto mais solicitações. Elas vêm de todos os lados: funcionários, clientes, fornecedores... Minha vida profissional se tornou uma samsara estúpida de milhões de coisas minhas e alheias por fazer, resolver e cuidar e nada por finalizar. O problema não é matar um leão por dia, mas matar o mesmo leão todos os dias... Ô bicho chato!
-
Mude de vida, de ocupação.
- Essa é a intenção. Tenho o projeto da viagem, preciso de tempo para cuidar dele, mas o tal leão não deixa.
-
Foi esse leão que deixou você amargo nas últimas postagens?
- Não estava amargo. Só não estava e nem ando muito disposto a adular ninguém. Sorrir forçado dá rugas e escrever só amenidades é como usar botox na alma. Não sou tão compreensivo assim. Compreensão é o seu ofício, para mim é apenas uma virtude.
- Aquela estória de queimar os vaidosos... Qual seu problema com espelhos?

- Não tenho problema algum com o espelho. Talvez só um pouquinho. O que me perturba é essa ditadura do modelo de beleza, de moda. Estou mesmo é com o saco cheio dessa pasteurização estética. Repare nas mulheres com a mesma tinta no cabelo, adeptas da chapinha, dos óculos para-brisa-de-caminhão e por aí vai. O mais grave é que não ficam apenas na aparência, estão pasteurizando as conversas, as gírias, os trejeitos, o conteúdo. Isso, aposto, é resultado de vaidades mal resolvidas.
- Sua cabeça raspada é um protesto?

- Muito “pelo contrário.” Perdão pelo trocadilho.
È um exercício de liberdade. Comecei a trabalhar com o público aos 14 anos e não tive a oportunidade de deixar meus cabelos (quando os tinha em abundância) crescerem como fez minha geração. Amadureci almofadinha por conta da necessária imagem comercial. Hoje não preciso mais disso e posso arriscar layouts diferentes. Eu até gostaria de ter um crânio negróide, perfeitamente esférico, mas essa cabeça de turco também não é tão feia quanto eu imaginava antes de raspá-la. Uma amiga me chamou de corajoso, outra disse que fiquei sexy. Isso deve ser um empate.
- Será que a segunda não confundiu sexy com fálico? HÁHÁHÁHÁHÁ! Desculpe! Perco o cliente, mas não perco a piada!
Já que tocamos no assunto...
-Demorou hein Sig. Mas isso vai ficar para a próxima sessão. Mesmo porque, para falar de sexo, vou precisar de regressão.

5 comentários:

Sindlink disse...

Oi !! Seu blog é bem legal!
Amei! Vou voltar sempre:P

Sindlink disse...

POis é, muita gente doente mental no mundo. Ninguém merece. Povinho maluco!!:P E você não respondeu nada? Se bem que tem situações nas quais é melhor ficar calado e fazer cara de paisagem né mesmo?

Anna Carolina Basseto www.diariodeumaneurotica.com disse...

Gostei muito do teu papo com Sig...
Comigo ele nunca é tão amigável...
Fica sempre querendo mexer onde não deve nem foi chamado.. hehe
Mas é isso que me mantém em alerta para o que as pessoas preferem ignorar.
Beijinhos

CESAR CURY disse...

Oi Anna,
Confesso que a amabilidade do Sig foi conseguida diante de uma tortura que o submeti. Usei cola-quente!
Quer emprestado? (Acompanha o instrumento de tortura)
Beijos.

JJCURY disse...

MANO,

EMBORA AUSENTE(COMO SEMPRE), TENHO ACOMPANHADO SUA PREPARAÇÃO PARA ESTA "BIG TRIP".
FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DE ORGULHO DO ZÉ E DA TICA.
FICO, AINDA, MAIS ORGULHOSO AO SABER QUE O "START POINT" DESTA AVENTURA LOCALIZA-SE NO PRIMEIRO LOCAL DE COLONIZAÇÃO DO BRASIL ( NÃO VAMOS DISCUTIR O TERMO COLONIZAÇÃO AGORA. DEIXE PARA O FIM DA VIAGEM.) ME ORGULHO PORQUE AQUI MORO E TEREI O PRILÉGIO DE DAR-LHE O MEU ABRAÇO, MEU BEIJO E MEUS VOTOS DA MAIOR SORTE NESTA EMPREITADA.
TAMBÉM TEREI O PRIVILÉGIO DE CONHECER A HEBE.
VOU PEDIR O AUT´GRAFO DELA. (DEPOIS TE CONTO A IDÉIA)
BEIJOS PARA TODOS QUE ABANDONO MAS NÃO ESQUEÇO.
JÚNIOR