sábado, 14 de abril de 2007

A BESTA DA SEXTA-FEIRA 13.




Foi um dia complicado, cheio de contratempos, da hora que acordei até os seus últimos minutos, quando o derradeiro aborrecimento me fez declinar de uma carona e voltar pra casa a pé. Pareceu-me razoável a oportunidade de esfriar a cabeça com uma caminhada.
Cerca de cinco quilômetros separam a pizzaria de minha casa, essa distância não é problema, porém há um desafio na última metade do trajeto. Em noites sem luar esse trecho de estrada é de uma escuridão palpável. Eu não tinha me lembrado disso quando decidi caminhar, bem como que era uma sexta-feira 13.
Não sou supersticioso e não tenho medo do escuro, mas confesso que quando me vi envolvido por aquele negrume, sobrou pouco sangue na adrenalina que corria em minhas veias. Senti arrepiar até os fios de cabelo que já não tenho mais. Sem querer, comecei a listar mentalmente todos os riscos que estava supostamente correndo: Atropelamento, ataque de cachorro, assalto, seqüestro, mordida de cobra, abdução, vampirismo, Chupa-cabras e enfarte, o que era o mais provável.
Ultimamente, por força das circunstâncias, ando praticado muito aquela máxima: “Se te derem um limão, faça uma limonada”. Tenho feito isso com tanta constância que estou pensando em abrir uma barraquinha de refresco.
Pois bem, lá vinha eu, virilmente arrepiado, com meus heróicos olhos arregalados, tentando encontrar uma fórmula racional de fazer uma limonada com aquele container de limões que minha mente primitiva havia me presenteado. Busquei por referências em experiências alheias. Lembrei-me de Paulo Coelho em O Diário de Um Mago e seu confronto com um cachorro preto, recorri ao Amyr Klink num trecho de Paratii quando ele descreve a superação do medo pela necessidade da ação. Essas divagações me trouxeram de volta à razão e a cada passo fui relaxando e saboreando a tal limonada.
Já estava andando bem devagar, olhando para o céu em busca de estrelas conhecidas quando suspeitei que alguma coisa ou alguém mexeu na vegetação à beira do ribeirão sob a ponte que eu cruzava. Tentei me convencer de que estava ouvindo meus medos e nada mais. Só que essa alucinação era bem grande. Escutei claramente o barulho de algo pesado caindo dentro da água numa margem e saindo na outra. –Acorda! Isso é real! Ta aí ao lado! Berrou uma voz em minha cabeça.
Busquei identificar qualquer vulto, mas não conseguia ver nada além da faixa branca da estrada. O “ser” agora caminhava à minha direita, quebrando galhos com os pés. Pensei em atravessar a pista, cogitei parar, considerei até voltar. Esse drama se desenrolou por cerca de cem metros até que ouvi o barulho de um motor vindo de Joaquim Egídio, trafegava na pista contraria a que meu perseguidor e eu seguíamos. Os faróis do carro começaram a iluminar uma curva logo à frente. Parei. A “coisa” caminhou mais uns metros além de mim e também parou. Com o coração saindo pela boca seca, agucei os olhos na direção que supus “aquilo” estivesse. O carro aproximou-se em segundos intermináveis, suas luzes começaram a desenhar os contornos de tudo que nos cercava. Finalmente os faróis alinharam-se na nossa direção e revelaram a silhueta de uma enorme pedra há uns quatro metros adiante de mim. Uma pedra suspensa! Uma pedra com patas, hipnotizada pelos fachos do automóvel que diminuiu a velocidade para observá-la.
-PUTA-QUE-PARIU!!!! Gritei aliviado.
Estava gritando ainda quando o fusca passou por nós: -Eu sou uma besta! Você é uma capivara e eu sou uma besta! Eu sou uma besta! Muito prazer! Rá-rá-rá-rá!
O simpático roedor ignorou minha saudação e calmamente atravessou a estrada sumindo no mato.

Cheguei quase agora em casa, ainda rindo muito do vexame involuntário que o medo irracional me fez protagonizar.
Enquanto estava alimentando a Rita, minha cadela e confidente, narrei para ela como seria a história de hoje no blog. Aparentemente ela não entendeu direito o que era uma capivara, foi então que pensei em descrever o bicho como uma grande pedra roliça e marrom com patas. Estávamos felizes, eu com a descrição, ela com a refeição, quando senti uma picada no calcanhar direito. Imediatamente associei à capivara e gelei pensando no carrapato. Essa não! Capivara = Carrapato Estrela = Febre Maculosa.
Como um condenado, me sentei nessa cadeira de onde escrevo, acendi a luminária e, já me sentindo febril, arregacei a barra da calça até ver quem estava me picando.
-PUTA-QUE-PARIU!!!! –Eu sou uma besta! É só um carrapicho na meia e eu sou uma besta, a besta da sexta-feira 13! Rá-rá-rá-rá!

2 comentários:

Ricardo Ballarine disse...

Caro Joaquim, estou fazendo uma matéria sobre os 50 anos da kombi no Brasil. Gostaria de dar uma entrevista? É para a revista da CNT (Confederação Nacional do Transporte). Meu e-mail é rb2611@gmail.com.
Abraços
Ricardo Ballarine

CESAR CURY disse...

Olá Ricardo,
Mais do que uma entrevista, vou te dar um "furo jornalístico" -Rá,rá,rá,rá!
Mais detalhes em pvt no seu e-mail, ou não seria um furo!
Abraços!