As coisas que eu mais gosto são muito simples:
Caminhar à tardezinha, pedalar de manhã, café e pão com manteiga na padaria, comprar jornal na banca, comer pastel na feira, Toddy batido no mixer, Chicabom, pudim de leite condensado, tostex de queijo branco, pipoca com molho de pimenta, cochilar na rede lendo um bom livro, cafuné (na careca mesmo), vestir roupa velha bem lavada e bem passada depois de um banho caprichado, viajar de qualquer forma, e conversar... Adoro conversar. Gosto de falar sobre o tempo, sobre comidas, livros, filosofar sobre gentes, experiências e causos... Gosto de ouvir, de forma profunda, de aprender com os outros.
Também amo abraços apertados e beijos estalados como só os verdadeiros amigos e amigas podem retribuir.
Abriria mão de todos meus outros gostos sofisticados para poder usufruir somente destes “momentos essenciais”.
A falta dessas coisas está me angustiando. Estou sendo transformando num ser estranho, anti-social e só, inacreditavelmente só. Pode parecer loucura alguém que tem contato com no mínimo cinqüenta pessoas todos os dias se queixar de solidão, mas não é: Aconteceu que ao longo dos últimos onze anos meus relacionamentos foram se resumindo aos laços comerciais, o César “gente” foi cedendo espaço para
A criatura engoliu o criador que está surtando.
Não agüento mais falar sobre pizzas e cervejas, sorrir forçado da mesma piada contada pela enésima vez, responder que não vi tal peça de teatro, que não fui ao cinema, que não vou ao aniversário de ninguém, que não assisto televisão (não que o fizesse se fosse possível), que não conheço a Pizzaria Bráz, que nunca fui ao Cartun, que perdi o
Claro que a pizzaria me proporcionou conhecer pessoas especiais como Fábio, Karin, Suzy, Gustavo, Israel, Abrão, Neiri, Lobão, Silvinha, Mazon e tantos outros e outras, mas eu não consigo usufruir deles... Quando vão à pizzaria fico dividido entre os amigos e o trabalho e fora da pizzaria eu simplesmente não existo. Nunca consigo estar com eles em outro lugar, aliás eu nunca estou em outro lugar.
Numa tentativa desesperada tentei delegar atribuições para conseguir tempo. Creio que acertei na teoria, mas errei feio na prática: Resultou num retrocesso operacional de uns seis meses e em prejuízos que devem alcançar o equivalente a noventa dias de lucro. – Ta vendo? Nem sei mais falar apenas do que eu sinto, já ia enveredando por assuntos comerciais!
Por tudo isso e, especialmente, porque estou morrendo de saudades de mim, a pizzaria está à venda a partir de hoje.
Se tudo der certo, brevemente a gente se encontra pra um pastel na feira.