segunda-feira, 18 de junho de 2007

PELO AQUECIMENTO PESSOAL.


* foto de Marta Ferreira em www.olhares.com
Não consigo evitar.
Todo ano a mesma história se repete: Dias mais curtos e mais frios me fazem meio depressivo. Vou me encolhendo, baixando a atividade e a imunidade até que pimba: Gripe!
Agora já estou me recuperando. Restou apenas uma tosse que vai me anunciar por mais umas duas semanas. Esse ano até que foi light, em 2006 fiquei uns dez dias de molho, o que foi até bom. Repensei minha vida e tomei decisões que vinha postergando, sem saber, há anos.
Mas essas elucubrações íntimas não são assunto para hoje. Quero ponderar sobre uma legião de adoradores do Inverno, gente que ama o frio. Não consigo entende-los, pelo menos dentro da estrutura de conforto que minha vida tropical oferece. Moro numa casinha super-confortável, mas não possui calefação, as noites frias tem que ser enfrentadas sob as cobertas mesmo, igualmente ao meu meio carro (metade dele é de minha ex-mulher) é uma pick-up Strada básica, sem ar-condicionado o que nos obriga, nos dias frios, a manter as janelas fechadas e, de tempos em tempos, passar aquela maldita flanelinha no parabrisas, muitas vezes provocando tchauzinhos de uns desligados ou gozadores. Hebe, a Kombi, ainda continua refém do funileiro. Sei que ela possui um sistema de calefação que coloca dentro do carro o ar aquecido pelo motor, o que não é exatamente saudável e já gerou algumas lendas urbanas sobre famílias (nipônicas) inteiras mortas por asfixia. Deve ser exagero, não tive possibilidade de testar. Acho que o funileiro se preocupa demais com a minha saúde.
Voltando a esse povo que diz adorar o frio, acho que são mentirosos ou masoquistas enrustidos. Vou citar algumas das coisas que me irritam profundamente no inverno:

Dormir só: Uma roupa de cama caríssima em puro algodão se transforma num martírio nas noites de frio. Depois que você consegue aquecer o ninho é preciso muita coragem pra mudar de posição. Durmo encolhido, sufocado por uma pilha de cobertores, mantas e edredons, acordo dolorido, desanimado, com medo de enfrentar o mundo gelado além das cobertas. Tem ainda a decadência estética: Se no verão durmo quase nu, agora, nessas noites frias me peguei usando até umas pantufas de cachorrinho. (De onde mesmo que veio isso?) Olhar no espelho de manhã usando uma calça de moletom surrada, um suéter velho e pantufas azuis de cachorrinho arrasam com a auto-estima de qualquer um.

Insônia: Tenho, eventualmente, passado por isso. No Inverno fico imobilizado, tentando induzir sonhos, relaxar o corpo, controlar a respiração, esperando que Morfeu me acolha. Nada funciona e fico até o amanhecer maldizendo a temperatura que me impede de, como nas noites quentes, sair pelado pela casa, ler um livro ou uma revista, tomar Coca-Light, acender um cigarro, deitar no tapete ouvindo jazz, navegar na internet e encontrar outros insones. Ou seja, insônia é para climas quentes, no frio, bom mesmo é dormir, para quem consegue ou é urso.

Dormir acompanhado: Tenho uma vaga lembrança disso. Me recordo que a gente sofre um bocado com pés e mãos alheios gelados, mas o que mais me revolta é o bumbum antártico! Aparentemente, mulheres de nádegas esféricas, grandes e bonitas foram feitas para viver em zonas tropicais, na Africa, por exemplo. Acho que há uma deficiência de irrigação sangüínea nesses lindos derrières avantajados que me fazem sentir, em noites frias, como se encochasse uma estatua de mármore. Ainda assim é muito melhor que sozinho de pantufas, moletom e suéter. Vale lembrar que namorada e esses trajes são incompatíveis. Nem pensar em tirar essa cafonice do armário se tiver companhia para dormir.

Banheiro: Já que estamos falando em bundas, tem coisa pior do que sentar no vaso sanitário numa manhã gelada? Tem sim! No bidê! E os banhos então? Chuveiro ligado há meia hora, tudo embaçado, estratégia para entrar no banho, outra pra sair da água e finalmente abraçar aquela toalha que parece ter dormido no freezer. Fazer a barba, escovar os dentes, lavar o rosto – tudo é penoso. O banho que no verão é um prazer, torna-se, no inverno, uma terrível obrigação.

Cozinha: O apetite aumenta, tudo bem! Mas a comida esfria muito mais rápido do que consigo come-la. Os sucos e refrigerantes são evitados, tenho o consolo dos vinhos, traiçoeiros, que carregam consigo as lembranças ébrias de uma noite de verão. E o pior de tudo: Sempre há mais louça pra lavar, com água fria.

Sapatos: Os mais confortáveis e amaciados são os que uso no verão. Aqueles pesados e quentes, normalmente os encontro ressecados e embolorados sempre que preciso deles nos primeiros dias frios.

Roupas que uso: Pesadas e mais austeras do que as do calor, as roupas de frio sempre me trazem uma certa nostalgia, parecem contar histórias do inverno passado. Deve ser por conta do leve odor de mofo que elas trazem.

Roupas que elas usam: Se escondem são adequadas e sem graça, se mostram são inadequadas e fim de papo. Barriguinha (mesmo que bonitinha) de fora com menos de 20ºC é atentado ao bom senso e ao bom gosto.

Lavar Roupas: Antes de tudo, no inverno há a dúvida, no verão a evidência! Não sei se acontece com todo mundo, mas eu fico com dor de consciência quando coloco as roupas na lavadora durante o inverno. Usei essa camiseta uma vez, o colarinho está limpo, não tem cheirinho, lavar por que? Por via das dúvidas, lavo. Já no verão, as roupas depositadas no cesto do banheiro ficam sussurrando odorificamente: Me lava, me lava, me lava!

Jardim: Tudo seco. Grama cheia de folhas, formigueiros pipocando, não temos flores nem beija-flores. Tudo que se mexe no jardim durante o verão corre pra dentro de nossa casa no inverno. Nada melhor para estragar um dia do que pisar (com as pantufas) numa centopéia friorenta que veio recolher seus cem pezinhos gelados bem embaixo da sua cama. - CRECK! - ARGH!

Trabalho: Todo mundo de saco-cheio: Revoltados por terem que sair de casa, revoltados por não estarem em casa e mais revoltados ainda por terem que voltar pra casa nesse puta frio. No meu caso, uma pizzaria, ficamos, sempre que possível, reunidos em torno do forno, até que a clientela nos tire do conforto para atender mesas e telefones. Motoqueiros com nariz escorrendo, garçons com os nojentos suéteres velhos sob o uniforme, porteiro gripado, telefonista fanha. Um horror.

Por essas e por outras que não me lembro mais, já que estou maluco de acido acetilsalicílico, paracetamol e cheirado de Vick-VapoRube é que pergunto: Qual é a graça do inverno?

2 comentários:

Anônimo disse...

Oie.....Concordo plenamente que o inverno e inconveniente...aqui esta o maior frio, 4 graus pela manha, checo a temperatura no termometro que tem no caminho do trabalho enquanto pedalo a minha bicicleta...na subida tudo bem que esquenta, mas na descida.......
Um conselho: compre um aquecedor, isso vai fazer com que o inverno seja um pouco mais suave....beijos...

Anônimo disse...

Cesão ! Corretíssimo ! O inverno ainda dá aquela caída na auto estima, tendo que acordar todo dia com o PÊNIS (não sabia se ia ser possível me referir a ele de outra forma aqui)encolhido ... quase sofrendo uma envaginação !

Viva o verão !!

Parabéns Bicho !!