Finalmente a Revista CNT foi publicada (edição 141) e as “verdadeiras intenções” desse blog podem ser reveladas. Até hoje guardei um “quase segredo” em respeito ao ineditismo da entrevista. Abaixo a íntegra da “conversa teclada” com Ricardo Ballarine, editor-executivo da publicação. (não deixe de visitar o seu blog Verbo Transitivo – link aí à direita).
Desde quando você tem essa afinidade com a Kombi?
Descobri quase todo mundo tem lembranças boas relacionadas com Kombis. Era o carro do avô ou de um tio querido, a perua-escolar, o padeiro que trazia bombas e sonhos, ou o pamonheiro. No meu caso, tive o privilégio de ter um pai “kombidólotra”, ele teve várias Kombis, às vezes mais de uma simultaneamente, mesmo sendo o único motorista da família. Minha mãe era professora na mesma escola onde fiz o primário, ele nos levava e ia buscar todos os dias. Sendo o caçula de quatro irmãos que estudavam em outro colégio, aquele trajeto me parecia mágico. Eram nesses poucos minutos diários que sentado no banco da frente, entre meus pais, eu os tinha só pra mim. Tornei-me um motorista teórico nessas “aulas”. Observava a troca das marchas determinada pelo barulho do motor, o movimento dos pés sincronizados com a mudança de posição da enorme alavanca do câmbio. Quando tive oportunidade de pegar um carro pela primeira vez, aos treze anos, saí dirigindo Tenho ainda ótimas lembranças das férias de dois meses que passávamos na praia, todos os anos, sempre de Kombi.
E o projeto Kombinações, como surgiu?
Foi, como o nome também diz: A combinação de vários fatores pessoais e profissionais que me permitiram tirar da gaveta um sonho antigo. Há muitos anos pretendi fazer uma aventura assim com a mulher e filho a bordo de um barco. Cheguei a me habilitar como mestre-amador, fiz cursos de GPS e navegação astronômica, comprei todos os livros do Amyr Klink, da família Shürmann e tantos outros navegadores, mas não consegui levar o projeto adiante devido ao receio de minha mulher e o apego de meu filho à cidade, escola e amigos. Em outra ocasião propus a eles um projeto semelhante, só que de ônibus, pelo interior do Brasil, novamente fui voto vencido e o dinheiro do ônibus e do barco acabou sendo usado para montar a pizzaria que tenho hoje.
O que mudou agora?
Meu filho cresceu, eu me separei de minha mulher e agora tenho uma Kombi Luxo 1968 (risos).
Na verdade, aconteceram outras combinações. Eu comprei a Kombi em janeiro desse ano, por fotografia num site de leilões da internet por R$ 2.999,00. Minha intenção era ter um carro bem barato para me locomover da pizzaria para minha casa, pouco mais de cinco quilômetros. Dei o lance suspeitando que ela não valesse nem isso, mas, no primeiro dia com ela, quando a levei para o meu mecânico consertar o câmbio que escapava marchas, ele a examinou longa e minuciosamente. Finalmente perguntou onde eu havia arrumado “aquilo”. Constrangido, contei a ele a origem e já fui logo dizendo o quanto paguei por “aquilo”, com receio de passar por louco ou trouxa. Ele me ofereceu o dobro. Disse que eu havia achado a famosa “mosca branca”, que não acreditava estar vendo um carro dessa idade com a estrutura tão perfeita. Foi a partir disso que tirei da gaveta meus velhos projetos e os adaptei para uma aventura solitária a bordo da Kombi quarentona.
Kombinações também tem esse significado para mim, mas o nome é a síntese de toda a proposta: É uma viagem em busca das Nações que existem em nosso continente, não só as delimitadas por fronteiras internacionais, mas as inúmeras faces e hábitos do nosso povo sul-americano que combina sangues e culturas criando sempre novas versões, fazendo da gente dessa terra a mais rica e diversificada humanidade do planeta.
Quais serão os países visitados?
O roteiro estabelecido até o momento, parte de Bertioga, em São Paulo e segue até o Chuí, de lá, entra pelo Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. Retorna ao Brasil por Boa Vista, em Roraima, cruza a região amazônica e reencontra o Atlântico no Nordeste e desce pelo litoral brasileiro até retornar ao ponto de partida em Bertioga. É um giro no continente em sentido horário com quase 30.000 quilômetros, sempre que possível, enxergando o mar à minha esquerda.
Por que a América Latina?
As Guianas ficaram de fora pela quase impossibilidade de acesso por via terrestre, não pelo fato de utilizarem idiomas não latinos. Quanto à Bolívia e Paraguai, não foram incluídos no roteiro num primeiro momento porque estou priorizando os limites impostos pelo mar. Mas estou trabalhando com uma boa folga na estimativa de quilometragem diária, se eu aumentar em 20% meu tempo diante do volante a cada deslocamento, posso incluir esses dois países. No momento estou detalhando o roteiro, tempo de paradas e datas. Comecei essa semana a colocar os alfinetes no mapa do Rio Grande do Sul, acredito que quando chegar ao Chile, ali pelos primeiros 7.000 quilômetros, terei uma idéia mais consistente da possibilidade e conveniência de incluir ou não os dois paises sem litoral.
E depois, há planos de novas viagens? E o Brasil, pensa em percorrer?
Sim, ainda nem fiz a primeira e já estou sonhando com mais duas nesse estilo e uma terceira que seria uma espécie de caravana de voluntários. As duas nos moldes de Kombinações seriam uma pela América Central, puramente turística e outra pelo interior do Brasil, visitando os menores e mais esquecidos povoados. A terceira viagem, essa do voluntariado, seria para retornar aos lugares brasileiros onde, nas passagens anteriores, eu tivesse identificado carências e especialmente potencialidades que os povos desses locais nem sequer tenham cogitado existir. É muito comum que o “forasteiro” enxergue riquezas e soluções óbvias em terras e realidades sociais diferentes da sua. Se o projeto Kombinações tiver a repercussão que eu imagino, não será difícil reunir pessoas de boa vontade para missões humanitárias que incluiriam desde ações no âmbito da saúde e higiene até professores e professoras de ofícios como costura, marcenaria, carpintaria, artesanato, etc..
As nossas universidades estão abarrotadas de soluções baratas para geração de energia, irrigação, estudos de viabilidade econômica de empreendimentos agrícolas familiares e implantação de cooperativas. É preciso que esse patrimônio intelectual e tecnológico chegue a quem mais precisa.
Posso até imaginar um pequeno povoado, pobre e esquecido, sendo invadido por uma ou duas semanas por dezenas de voluntários das mais diversas áreas, trazendo um caminhão de benefícios, cuidados e, principalmente, conhecimento. Sei que isso mudaria de forma positiva a vida de todos os envolvidos, a ponto de no final, nem visitantes nem anfitriões saberem quem foram os verdadeiros beneficiados. Eu já presenciei uma situação assim.
Qual a data de partida e a duração da viagem?
Se eu fiz a leitura correta do número de identificação que consta na plaqueta da Kombi, quero sair no dia do seu quadragésimo aniversário: 22 de Abril de 2008. Não consegui ainda uma confirmação confiável da data de fabricação, mas gostaria muito de fazer esse ritual. Afinal, dizem, a vida começa aos quarenta.
O roteiro está sendo elaborado para durar exatamente um ano. Mas há diversas variáveis, especialmente climáticas que podem alterar em alguns dias essa previsão, inclusive a data de partida.
Existe alguma razão especial para partir de Bertioga?
O Amyr Klink, diz em seu livro Paratii, que o momento mais difícil da viagem é a partida. Eu pretendo diluir isso em três despedidas: A primeira em Sousas, distrito de Campinas, minha terra e onde tenho a pizzaria, por razões óbvias; A segunda em São Bernardo do Campo, na fábrica da Volkswagen, mas eles (da VW) ainda não sabem disso (risos), e a terceira e marco oficial do início da viagem, em Bertioga, lugar onde passava aquelas longas férias na infância, sempre levado pelas Kombis de meu pai. Em minha memória Bertioga e Kombi são inseparáveis.
Que adaptações serão feitas na Kombi para a viagem?
Ela está sendo restaurada. Voltará a ter todas suas características originais. Quero fazer o mínimo de adaptações possíveis, só vou alterar o que for absolutamente necessário, como a parte elétrica, por exemplo, que terá que ser robusta para suportar os diversos equipamentos eletrônicos que serão instalados nela. Esteticamente ela ficará como no dia que saiu da linha de produção.
Que equipamentos serão esses?
Um sistema de navegação por GPS, um rastreador por satélite, um sistema de comunicação por telefone e internet, um computador de boa capacidade para edição de imagens, um laptop como backup e para uso no campo, carregadores de baterias para equipamentos portáteis como câmeras digitais e filmadoras, uma mini-geladeira, um ventilador e o som, se não me esqueci de nada.
Numa viagem com essa quilometragem e duração é de se esperar por imprevistos. Na eventualidade de defeitos na Kombi, como você pretende agir?
Tenho um bom conhecimento de como me safar dos problemas mais comuns que costumam ocorrer. Vou levar uma oficina básica, um manual da época de diagnósticos e manutenção e várias peças sobressalentes como um carburador, bomba de combustível, bobina, velas, correias, cabos de acelerador e embreagem, câmeras de ar e, evidentemente, um rolo de arame que conserta quase tudo nos Volkswagen daquela época.
Percebo uma grande apreensão das pessoas quando conto a idade da Kombi que vai me levar nessa viagem. Nessas ocasiões costumo lembrar que o Boeing 707 que servia aos presidentes do Brasil até pouco tempo atrás, o Sucatão, foi fabricado também em 1968. Tudo é uma questão de manutenção adequada. Além do mais, se eu estiver errado e ela quebrar, estaremos no chão e não voando (risos).
Onde você dormirá nessas 365 noites? Em hotéis?
Não. A simplicidade faz parte da filosofia desse projeto. Na maioria das vezes vou dormir em campings, na barraca dobrável que será instalada no bagageiro da Kombi. Posso eventualmente ficar em pousadas, mas somente se forem atraentes por outros aspectos que não seja o luxo. Os hotéis, por sua natureza, primam pela privacidade e essa viagem foca exatamente o contrário, o contato humano, a feitura de laços, a troca de experiências.
E os custos do projeto? Há patrocinadores ou trata-se de uma produção independente?
Vou precisar de patrocinadores. Espero contar com o apoio de empresas ligadas, à telecomunicação, ao turismo de aventura, mapeamento digitalizado e rastreamento rodoviário, e evidentemente, da montadora.
Você já concretizou alguma parceria?
Sim, com a Softway que produz soluções e softwares específicos para o comércio exterior, uma espécie de despachante aduaneiro eletrônico e instantâneo. Eles vão me dar um considerável suporte financeiro durante a viagem.
Oportunamente essa entrevista está se antecipando aos contatos em busca de patrocínio que eu pretendo fazer nos próximos meses, o que é bom, pois vai abrir várias portas.
Que espécie de retorno seus patrocinadores podem esperar?
Agora temos que deixar um pouco de lado a poesia que norteia essa viagem e falar de comunicação comercial. Vou tentar pintar um quadro sem citar os nomes das empresas que sonho como parceiras.
Basicamente pretendo me expor como se fosse o único participante de um reality-show itinerante. Quero que qualquer pessoa que tenha acesso a um computador, possa participar dessa viagem de diversas formas: Checando minha posição, rumo e velocidade num mapa ou imagem de satélite quando acessar o site da empresa de rastreamento de veículos, pode ainda solicitar no site de ampliações digitais que eu tire uma foto de um ponto no qual ela tenha interesse e receber essa foto em casa pelos correios, pode chegar junto comigo em Ushuaia ou Manaus através das imagens captadas pelas câmeras da Kombi e transmitidas ao vivo (ou quase) pela empresa de telefonia, pode participar de um “chat” comigo no site da montadora. Pode acessar, a partir do site do projeto ou do meu blog, produtos ou serviços que eu tenha usado e aprovado na viagem. As possibilidades pela internet são infinitas, além do que, pretendo escrever e fotografar como freelancer para veículos de mídia impressa.
Para isso estou fazendo um pesado investimento em mim mesmo, aprendendo espanhol, fotografia, cinema e edição digital de imagens.
As parcerias vão se restringir à empresas ou produtos diretamente ligadas à viagem?
Não necessariamente. Qualquer empresa social e comercialmente ética é bem-vinda, desde que sua participação não implique na deturpação do projeto.
Você deu um nome para sua Kombi, se importa em dizer?
Não vejo problema, mas antes quero esclarecer que se trata de uma homenagem carinhosa as duas, a Kombi e a pessoa.
O nome é Hebe. É perua, é coroa, mas está enxuta!
Desde quando você tem essa afinidade com a Kombi?
Descobri quase todo mundo tem lembranças boas relacionadas com Kombis. Era o carro do avô ou de um tio querido, a perua-escolar, o padeiro que trazia bombas e sonhos, ou o pamonheiro. No meu caso, tive o privilégio de ter um pai “kombidólotra”, ele teve várias Kombis, às vezes mais de uma simultaneamente, mesmo sendo o único motorista da família. Minha mãe era professora na mesma escola onde fiz o primário, ele nos levava e ia buscar todos os dias. Sendo o caçula de quatro irmãos que estudavam em outro colégio, aquele trajeto me parecia mágico. Eram nesses poucos minutos diários que sentado no banco da frente, entre meus pais, eu os tinha só pra mim. Tornei-me um motorista teórico nessas “aulas”. Observava a troca das marchas determinada pelo barulho do motor, o movimento dos pés sincronizados com a mudança de posição da enorme alavanca do câmbio. Quando tive oportunidade de pegar um carro pela primeira vez, aos treze anos, saí dirigindo Tenho ainda ótimas lembranças das férias de dois meses que passávamos na praia, todos os anos, sempre de Kombi.
E o projeto Kombinações, como surgiu?
Foi, como o nome também diz: A combinação de vários fatores pessoais e profissionais que me permitiram tirar da gaveta um sonho antigo. Há muitos anos pretendi fazer uma aventura assim com a mulher e filho a bordo de um barco. Cheguei a me habilitar como mestre-amador, fiz cursos de GPS e navegação astronômica, comprei todos os livros do Amyr Klink, da família Shürmann e tantos outros navegadores, mas não consegui levar o projeto adiante devido ao receio de minha mulher e o apego de meu filho à cidade, escola e amigos. Em outra ocasião propus a eles um projeto semelhante, só que de ônibus, pelo interior do Brasil, novamente fui voto vencido e o dinheiro do ônibus e do barco acabou sendo usado para montar a pizzaria que tenho hoje.
O que mudou agora?
Meu filho cresceu, eu me separei de minha mulher e agora tenho uma Kombi Luxo 1968 (risos).
Na verdade, aconteceram outras combinações. Eu comprei a Kombi em janeiro desse ano, por fotografia num site de leilões da internet por R$ 2.999,00. Minha intenção era ter um carro bem barato para me locomover da pizzaria para minha casa, pouco mais de cinco quilômetros. Dei o lance suspeitando que ela não valesse nem isso, mas, no primeiro dia com ela, quando a levei para o meu mecânico consertar o câmbio que escapava marchas, ele a examinou longa e minuciosamente. Finalmente perguntou onde eu havia arrumado “aquilo”. Constrangido, contei a ele a origem e já fui logo dizendo o quanto paguei por “aquilo”, com receio de passar por louco ou trouxa. Ele me ofereceu o dobro. Disse que eu havia achado a famosa “mosca branca”, que não acreditava estar vendo um carro dessa idade com a estrutura tão perfeita. Foi a partir disso que tirei da gaveta meus velhos projetos e os adaptei para uma aventura solitária a bordo da Kombi quarentona.
Kombinações também tem esse significado para mim, mas o nome é a síntese de toda a proposta: É uma viagem em busca das Nações que existem em nosso continente, não só as delimitadas por fronteiras internacionais, mas as inúmeras faces e hábitos do nosso povo sul-americano que combina sangues e culturas criando sempre novas versões, fazendo da gente dessa terra a mais rica e diversificada humanidade do planeta.
Quais serão os países visitados?
O roteiro estabelecido até o momento, parte de Bertioga, em São Paulo e segue até o Chuí, de lá, entra pelo Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. Retorna ao Brasil por Boa Vista, em Roraima, cruza a região amazônica e reencontra o Atlântico no Nordeste e desce pelo litoral brasileiro até retornar ao ponto de partida em Bertioga. É um giro no continente em sentido horário com quase 30.000 quilômetros, sempre que possível, enxergando o mar à minha esquerda.
Por que a América Latina?
As Guianas ficaram de fora pela quase impossibilidade de acesso por via terrestre, não pelo fato de utilizarem idiomas não latinos. Quanto à Bolívia e Paraguai, não foram incluídos no roteiro num primeiro momento porque estou priorizando os limites impostos pelo mar. Mas estou trabalhando com uma boa folga na estimativa de quilometragem diária, se eu aumentar em 20% meu tempo diante do volante a cada deslocamento, posso incluir esses dois países. No momento estou detalhando o roteiro, tempo de paradas e datas. Comecei essa semana a colocar os alfinetes no mapa do Rio Grande do Sul, acredito que quando chegar ao Chile, ali pelos primeiros 7.000 quilômetros, terei uma idéia mais consistente da possibilidade e conveniência de incluir ou não os dois paises sem litoral.
E depois, há planos de novas viagens? E o Brasil, pensa em percorrer?
Sim, ainda nem fiz a primeira e já estou sonhando com mais duas nesse estilo e uma terceira que seria uma espécie de caravana de voluntários. As duas nos moldes de Kombinações seriam uma pela América Central, puramente turística e outra pelo interior do Brasil, visitando os menores e mais esquecidos povoados. A terceira viagem, essa do voluntariado, seria para retornar aos lugares brasileiros onde, nas passagens anteriores, eu tivesse identificado carências e especialmente potencialidades que os povos desses locais nem sequer tenham cogitado existir. É muito comum que o “forasteiro” enxergue riquezas e soluções óbvias em terras e realidades sociais diferentes da sua. Se o projeto Kombinações tiver a repercussão que eu imagino, não será difícil reunir pessoas de boa vontade para missões humanitárias que incluiriam desde ações no âmbito da saúde e higiene até professores e professoras de ofícios como costura, marcenaria, carpintaria, artesanato, etc..
As nossas universidades estão abarrotadas de soluções baratas para geração de energia, irrigação, estudos de viabilidade econômica de empreendimentos agrícolas familiares e implantação de cooperativas. É preciso que esse patrimônio intelectual e tecnológico chegue a quem mais precisa.
Posso até imaginar um pequeno povoado, pobre e esquecido, sendo invadido por uma ou duas semanas por dezenas de voluntários das mais diversas áreas, trazendo um caminhão de benefícios, cuidados e, principalmente, conhecimento. Sei que isso mudaria de forma positiva a vida de todos os envolvidos, a ponto de no final, nem visitantes nem anfitriões saberem quem foram os verdadeiros beneficiados. Eu já presenciei uma situação assim.
Qual a data de partida e a duração da viagem?
Se eu fiz a leitura correta do número de identificação que consta na plaqueta da Kombi, quero sair no dia do seu quadragésimo aniversário: 22 de Abril de 2008. Não consegui ainda uma confirmação confiável da data de fabricação, mas gostaria muito de fazer esse ritual. Afinal, dizem, a vida começa aos quarenta.
O roteiro está sendo elaborado para durar exatamente um ano. Mas há diversas variáveis, especialmente climáticas que podem alterar em alguns dias essa previsão, inclusive a data de partida.
Existe alguma razão especial para partir de Bertioga?
O Amyr Klink, diz em seu livro Paratii, que o momento mais difícil da viagem é a partida. Eu pretendo diluir isso em três despedidas: A primeira em Sousas, distrito de Campinas, minha terra e onde tenho a pizzaria, por razões óbvias; A segunda em São Bernardo do Campo, na fábrica da Volkswagen, mas eles (da VW) ainda não sabem disso (risos), e a terceira e marco oficial do início da viagem, em Bertioga, lugar onde passava aquelas longas férias na infância, sempre levado pelas Kombis de meu pai. Em minha memória Bertioga e Kombi são inseparáveis.
Que adaptações serão feitas na Kombi para a viagem?
Ela está sendo restaurada. Voltará a ter todas suas características originais. Quero fazer o mínimo de adaptações possíveis, só vou alterar o que for absolutamente necessário, como a parte elétrica, por exemplo, que terá que ser robusta para suportar os diversos equipamentos eletrônicos que serão instalados nela. Esteticamente ela ficará como no dia que saiu da linha de produção.
Que equipamentos serão esses?
Um sistema de navegação por GPS, um rastreador por satélite, um sistema de comunicação por telefone e internet, um computador de boa capacidade para edição de imagens, um laptop como backup e para uso no campo, carregadores de baterias para equipamentos portáteis como câmeras digitais e filmadoras, uma mini-geladeira, um ventilador e o som, se não me esqueci de nada.
Numa viagem com essa quilometragem e duração é de se esperar por imprevistos. Na eventualidade de defeitos na Kombi, como você pretende agir?
Tenho um bom conhecimento de como me safar dos problemas mais comuns que costumam ocorrer. Vou levar uma oficina básica, um manual da época de diagnósticos e manutenção e várias peças sobressalentes como um carburador, bomba de combustível, bobina, velas, correias, cabos de acelerador e embreagem, câmeras de ar e, evidentemente, um rolo de arame que conserta quase tudo nos Volkswagen daquela época.
Percebo uma grande apreensão das pessoas quando conto a idade da Kombi que vai me levar nessa viagem. Nessas ocasiões costumo lembrar que o Boeing 707 que servia aos presidentes do Brasil até pouco tempo atrás, o Sucatão, foi fabricado também em 1968. Tudo é uma questão de manutenção adequada. Além do mais, se eu estiver errado e ela quebrar, estaremos no chão e não voando (risos).
Onde você dormirá nessas 365 noites? Em hotéis?
Não. A simplicidade faz parte da filosofia desse projeto. Na maioria das vezes vou dormir em campings, na barraca dobrável que será instalada no bagageiro da Kombi. Posso eventualmente ficar em pousadas, mas somente se forem atraentes por outros aspectos que não seja o luxo. Os hotéis, por sua natureza, primam pela privacidade e essa viagem foca exatamente o contrário, o contato humano, a feitura de laços, a troca de experiências.
E os custos do projeto? Há patrocinadores ou trata-se de uma produção independente?
Vou precisar de patrocinadores. Espero contar com o apoio de empresas ligadas, à telecomunicação, ao turismo de aventura, mapeamento digitalizado e rastreamento rodoviário, e evidentemente, da montadora.
Você já concretizou alguma parceria?
Sim, com a Softway que produz soluções e softwares específicos para o comércio exterior, uma espécie de despachante aduaneiro eletrônico e instantâneo. Eles vão me dar um considerável suporte financeiro durante a viagem.
Oportunamente essa entrevista está se antecipando aos contatos em busca de patrocínio que eu pretendo fazer nos próximos meses, o que é bom, pois vai abrir várias portas.
Que espécie de retorno seus patrocinadores podem esperar?
Agora temos que deixar um pouco de lado a poesia que norteia essa viagem e falar de comunicação comercial. Vou tentar pintar um quadro sem citar os nomes das empresas que sonho como parceiras.
Basicamente pretendo me expor como se fosse o único participante de um reality-show itinerante. Quero que qualquer pessoa que tenha acesso a um computador, possa participar dessa viagem de diversas formas: Checando minha posição, rumo e velocidade num mapa ou imagem de satélite quando acessar o site da empresa de rastreamento de veículos, pode ainda solicitar no site de ampliações digitais que eu tire uma foto de um ponto no qual ela tenha interesse e receber essa foto em casa pelos correios, pode chegar junto comigo em Ushuaia ou Manaus através das imagens captadas pelas câmeras da Kombi e transmitidas ao vivo (ou quase) pela empresa de telefonia, pode participar de um “chat” comigo no site da montadora. Pode acessar, a partir do site do projeto ou do meu blog, produtos ou serviços que eu tenha usado e aprovado na viagem. As possibilidades pela internet são infinitas, além do que, pretendo escrever e fotografar como freelancer para veículos de mídia impressa.
Para isso estou fazendo um pesado investimento em mim mesmo, aprendendo espanhol, fotografia, cinema e edição digital de imagens.
As parcerias vão se restringir à empresas ou produtos diretamente ligadas à viagem?
Não necessariamente. Qualquer empresa social e comercialmente ética é bem-vinda, desde que sua participação não implique na deturpação do projeto.
Você deu um nome para sua Kombi, se importa em dizer?
Não vejo problema, mas antes quero esclarecer que se trata de uma homenagem carinhosa as duas, a Kombi e a pessoa.
O nome é Hebe. É perua, é coroa, mas está enxuta!
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Fim, ou melhor, isso é só o começo!
Um comentário:
OI Cesar....sei que estou um pouco atrasada no comentario, mas sei que sempre e valido....enta vamos la...faca tudo o que tiver vontade, pois se nao fizer agora talvez nao faca....nao podemos perder as oportunidades...o projeto esta lindo...faz com que eu pense em minha propria vida e a encare de um modo diferente....vou fazer mais o que gosto e um pouco menos o que devo fazer...um beijo grande e todo o apoio que precisar...com amor Tica
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