- Boa noite, o senhor pode fazer o obséquio de me enviar umas pizzas? Fala o desconhecido com tom formal.
- Claro. Qual o seu telefone por gentileza?
- Eu prefiro não revelar meu telefone, gostaria que o senhor me desse uma estimativa da espera que eu irei pegar as pizzas na portaria do condomínio.
- Senhor, sinto muito, mas assim não pode ser. Eu preciso do número do seu telefone fixo. É por ele que o programa localiza seu endereço, caso o senhor já esteja cadastrado em nosso sistema.
- Eu já falei para o senhor que não vou informar meu telefone. Em tom autoritário.
- Então senhor, não poderei atendê-lo. Não trabalhamos aqui marcando encontros entre clientes e entregadores na portaria do Jardim Florido.
- Muito bem. Pedirei em outra pizzaria!
TUUUU! - TUUUU! - TUUUU! - Desliga bruscamente.
Instantes depois...
- Eu não disse que morava no Florido.
- Eu sei que não, senhor.
- Você rastreou minha ligação? Adotando uma postura intimidadora.
- É claro que não, senhor. Apenas deduzi. É que esse tipo de paranóia é típico de vários moradores do seu condomínio. - Falei provocando.
- Você acha que é paranóia? Berrando. Eu só quero preservar minha privacidade e a integridade da minha família. Não sei quem é o motoqueiro que você vai mandar na minha casa!
- Senhor, pelo que já havíamos conversado, o senhor não verá motoqueiro algum do República em sua casa. Lembra-se? O senhor não me informou o seu número de telefone.
- Olha aqui rapaz: Você está sendo irônico e isso eu não admito!
- É simples, senhor. Desligue seu telefone de número misterioso que eu preciso atender outros clientes.
- Eu quero falar com o gerente.
- Não temos isso aqui, senhor. Eu até poderia chamar o dono, mas eu não acho isso uma boa idéia.
- E por que não? Agora você está me ameaçando? Histérico.
- Longe de mim ameaça-lo, senhor. É que o dono sou eu e, até agora, estou me comportando como atendente de tele-marketing. Se o senhor preferir, posso falar como dono e aí certamente partiremos para o bate-boca, de igual para igual. Agora, o senhor me dê licença que eu tenho que trabalhar. Desliguei o telefone.
10 minutos depois...
- Como é o seu nome?
- É o senhor de novo?
- É... Eu admito ter sido meio ríspido. Eu só quero umas pizzas.
- Olhe aqui senhor, nós não somos traficantes nem seqüestradores, apenas fazemos pizzas. Eu não vou colocar os entregadores em risco de se encontrarem misteriosamente sabe-se lá com quem.
- Nisso você tem razão. Como foi mesmo que você disse que é o seu nome?
- Eu não disse. Meu nome eu não posso revelar. Mas meu codinome é Smart... Maxwell Smart... Falei cinicamente segurando o riso.
- Tudo bem, isso já foi longe demais. Mande essas pizzas, por favor. Quase implorando.
- Com a condição de que você apague o registro dessa compra e não me pergunte a razão.
- Tudo bem, isso é possível.
- OK. Na casa de Dona Marisa?
- ...
- Senhor?
- Isso. É, na casa da Marisa... Falou consternado.
- Pois bem, qual é o pedido?
- São duas de Frango-com-Catupiry, uma de Calabresa e uma de Aliche.
- Certo. Bebidas e sobremesas?
- Um minuto.... Você tem Martini?
- Devo ter uma garrafa fechada. Não é comum entregar bebidas desse tipo.
- Se tiver, quero essa garrafa e também umas oito Tortinhas-Holandesas. Quanto fica?
- R$ 193,90. Devo mandar troco?
- Não é preciso, vou pagar
- Fique tranqüilo, dou minha palavra. Dentro de uns 40 minutos seu pedido será entregue.
Quando o entregador (natural de Sousas) volta...
- "Seo Cury... U sinhô num imagina a gandaia... Era umas déis moça correndo pelada pela casa, i uns véio atráis... Uma putaria que nunca vi igüar!"